André Magrinho, Professor universitário, doutorado em gestão | andre.magrinho54@gmail.com

Muito se pode dizer sobre a importância do mar português ao longo da nossa história, nas suas diferentes valias: estratégica, económica, ambiental, cultural e política. O mar foi a plataforma que permitiu a nossa autonomia estratégica e nos ligou ao mundo. E, se assim foi ao longo da história, o mar ganha importância redobrada na atualidade, em razão das mudanças profundas que estão em curso na ordem e na geoeconomia internacionais, com reflexos nomeadamente na reorientação de muitas cadeias globais de valor.

Esta circunstância justifica um importante impulso e investimento na economia do mar, até porque Portugal já realiza cerca de 5% do seu PIB (2019), na economia do mar, de acordo com a última conta satélite da DGPM. Mas, tem condições para crescer mais e melhor, fazendo-o em cadeias de valor com elevado valor acrescentado associadas à economia do mar, enquanto fator diferenciador.  Realçam-se aqui as dimensões económica e ambiental, onde a transição digital e a sustentabilidade induzem novos desenvolvimentos nas cadeias de valor e no ecossistema da economia do mar, tendo como lema “digitalizar, descarbonizar e circularizar” o Mar.

Isso significa, de acordo com o Alm. Silva Ribeiro, ex-CEMGFA, no que à economia e ambiente dizem respeito, entre outros aspetos: desenvolver áreas de especialização nas infraestruturas portuárias, na construção e reparação naval, nos transportes e nas pescas e nos recursos naturais (biológicos, minerais, energias renováveis);  promover marcas distintivas do turismo, da cultura, do lazer e do desporto, associadas à sustentabilidade dos oceanos, que explorem as circunstâncias geográficas do país e a arte de bem receber que lhe são peculiares; alcançar capacidade tecnológica e científica (robótica submarina, sistemas de vigilância), que permita mapear e explorar de forma sustentável e inovadora, os recursos inertes existentes nos fundos marinhos da plataforma continental; ou, ainda, fortalecer a cooperação com países com interesses marítimos convergentes (países da CPLP, Japão, Coreia do Sul, Noruega,…), por via de parcerias bilaterais ou multilaterais, capazes de mobilizar o governo através das políticas públicas, empresas, universidades, laboratórios e outros centros de saber.

Na vertente ambiental, colocam-se desafios relacionados com a interação mar-terra, a poluição e a sobreexploração de recursos, mas também temas relevantes da agenda internacional dos oceanos. Também aqui existe um espaço de oportunidades para promover os mecanismos e parcerias internacionais multilaterais limitativas da utilização irracional dos oceanos, de modo a preservar a sua sustentabilidade futura. E, para isso, importa também aperfeiçoar mecanismos de vigilância, de regulamentação, de fiscalização e do controlo das atividades industriais marítimas, bem como acautelar os efeitos dos impactos ambientais.  Ações de literacia e de educação sobre a economia do mar, assim como a comunicação pública, a ciência, a tecnologia e a inovação, são também determinantes para que Portugal possa crescer mais e melhor investindo de forma inteligente na economia do mar.