A Jornada Diocesana da Juventude (JDJ) de 2024, celebrada pela juventude católica algarvia no passado fim de semana, teve a preocupação de levar os jovens a um encontro mais efetivo com Cristo através da Eucaristia, uma das três «prioridades pastorais» do novo programa trienal da Diocese do Algarve.
Mas se foi a dimensão eucarística a mais marcante no encontro em Lagos dos jovens católicos algarvios com o seu bispo, as restantes duas dimensões – vocacional e performativa – que completam o tripé de prioridades da diocese algarvia também estiveram presentes ao longo da atividade promovida pelo seu Setor Diocesano da Pastoral Juvenil (SDPJ) em colaboração com as paróquias de Santa Maria e de São Sebastião de Lagos, do Barão de São Miguel, de Bensafrim e da Luz de Lagos. 
O encontro, subordinado ao tema escolhido pelo Papa “Aqueles que esperam no Senhor, caminham sem se cansar” (cf. Is 40,31) e que contou com cerca de 215 jovens e 50 animadores de paróquias um pouco de todo o Algarve, teve início na sexta-feira ao início da noite com o acolhimento na Escola EB 2,3 das Naus onde os jovens pernoitaram durante a sua realização.
Seguiu-se a animada caminhada dali até à Praça do Infante, diante da igreja matriz de Santa Maria, onde decorreu a abertura da JDJ. O primeiro a subir ao palco foi o pároco das cinco paróquias envolvidas na organização. Para além de ter aconselhado os jovens aproveitarem cada momento, o padre Nelson Rodrigues referiu-se à “equipa enormíssima de voluntários” e agradeceu a todos os lacobrigenses e paroquianos que ajudaram a realizar o encontro. Seguiu-se a intervenção do assistente do SDPJ, o padre Samuel Camacho, que revelou aos participantes terem vindo para um “encontro com Cristo e com a Igreja”.   
A primeira noite prosseguiu com a animação do músico Ricardo Silva que ajudou os jovens a fazerem a festa que contagiou muitos dos transeuntes na baixa de Lagos, após a qual se deu o regresso à escola. 
 
No sábado de manhã, depois do pequeno-almoço e da oração, os maiores de 18 anos partiram de autocarro para uma missão de voluntariado não só com os utentes do Lar e Centro de Dia de Bensafrim e do Lar de São João Batista no Barão de São João, instituições pertencentes à Santa Casa da Misericórdia de Lagos, mas também com os moradores das duas localidades em contactos porta a porta. Ao Folha do Domingo, o padre Samuel Camacho explicou que o objetivo foi que os jovens se encontrassem com Cristo por meio do encontro com aquelas pessoas.  
O assistente do SDPJ disse ter sido uma dinâmica que os levou a “viverem numa dimensão mais caritativa aquele que é o sentido missionário da Igreja”. O voluntariado missionário incidiu na assistência aos utentes das instituições, tendo os jovens ajudado os idosos a tomar a refeição do almoço e a fazer algumas tarefas, mas os voluntários também aproveitaram para beneficiar da escuta da experiência de vida daquelas pessoas. A missão incluiu ainda a decoração de duas cruzes com as impressões digitais dos idosos que foram depois emolduradas para serem oferecidas em sinal de reconhecido agradecimento às paróquias envolvidas na organização da JDJ e ao município de Lagos pelo apoio na realização da mesma.
No mesmo período da manhã, os menores de 18 anos participaram por grupos em catequeses sobre a Eucaristia junto à igreja de Santa Maria. Ao Folha do Domingo, o assistente do SDPJ explicou que as catequeses pretenderam que aqueles destinatários “compreendam que a Eucaristia não é um preceito” e “para que percebam o que celebram e, percebendo o que celebram, consigam viver na sua própria vida aquilo que é a Eucaristia como fonte e cume de toda a Igreja”. 
 
Levadas a cabo pelos membros da equipa do SDPJ, as catequeses, para além da dimensão eucarística, ainda contribuíram para a consecução da dimensão performativa – ou seja, para a formação permanente com vista a configurar o formando com Cristo – que a diocese também pretende priorizar no seu triénio pastoral. O padre Samuel Camacho explicou que incidiram na explicação dos momentos, gestos e sinais constituintes da liturgia da Palavra e da liturgia eucarística que compõem a celebração da Eucaristia.   
Numa incursão pela dimensão vocacional a que a diocese algarvia também alude no seu programa pastoral, aqueles grupos visitaram ainda o nicho do beato Gonçalo de Lagos, nascido naquele lugar no ano de 1360, cuja vida lhes foi dada a conhecer, assim como a do beato Carlo Acutis, através da exposição internacional sobre os milagres eucarísticos no mundo, que também visitaram, concebida e levada a cabo por aquele jovem italiano falecido com 15 anos em 2006 e que está patente no Armazém Regimental daquela cidade. “A mostra visa elucidar sobre a importância da Eucaristia a partir dos inúmeros milagres eucarísticos ocorridos pelo mundo, mas também sobre o valor da vivência vocacional do batismo e da entrega de cada um a Jesus Cristo na sua própria vida e na sua própria realidade”, destacou o padre Samuel Camacho.
Na parte da tarde, de regresso à escola, os jovens foram os protagonistas de uma dinâmica que os levou a confecionar pão ázimo que foi depois consagrado e dado a comungar na Eucaristia de domingo. Aquele momento procurou ajudá-los a perceber a história e evolução da simbologia do pão na Bíblia, desde a primeira páscoa vivida ainda no Egito até à páscoa de Jesus. O padre Samuel Camacho lembrou que para produzir farinha é preciso moer o trigo. “Jesus deixou-se «moer» para que nós pudéssemos ter o pão da vida eterna. Olhando para os sofrimentos de Jesus, percebemos que Ele é o «pão descido do céu» que se dá em alimento, que se gasta, se deixa morrer e «cozinhar» para nosso sustento e para nossa salvação”, sustentou o sacerdote, lembrando o discurso de Jesus, citado no Evangelho de São João, no qual Ele próprio profere aquela afirmação.
Enquanto aguardavam que os pães sem fermento cozessem, os jovens testemunharam o voluntariado missionário que realizaram e as catequeses que viveram durante a manhã.
 
Ainda antes do jantar, participaram noutro dos vários momentos carregados de simbolismo que a JDJ lhes proporcionou. Parte dos membros da equipa do SDPJ lavou-lhes os pés, repetindo o gesto de Jesus aos discípulos no contexto da Última Ceia em que instituiu a Eucaristia, “para que eles compreendam que a vivência eucarística não é só o ir à Missa, mas é viver numa doação aos outros”. 
“Foi precisamente numa ceia que Jesus partilhou a sua vida com os outros, no caso com os seus discípulos, e deixou-nos o exemplo e memorial que permite alimentar a nossa fé. Jesus transformou a refeição pascal num sacramento que continua vivo nos dias de hoje, a Eucaristia, não como memória do passado, mas como eterno gesto do amor de Deus. Foi precisamente numa ceia que Jesus partilhou a sua vida com os outros, no caso com os seus discípulos, e deixou-nos o exemplo e memorial que permite alimentar a nossa fé. Jesus transformou a refeição pascal que estava a tomar com os seus discípulos num sacramento que continua vivo nos dias de hoje, a Eucaristia. Não como memória do passado, mas como eterno gesto do amor de Deus”, realçou Maria Neto, membro daquela equipa. 
“Nós, pela nossa condição humana, não podemos fazer o mesmo que Jesus fez porque não somos filhos de Deus como Ele é – só o somos adotados no Batismo -, mas podemos seguir o seu exemplo no gesto do lava-pés do serviço aos outros e do amor em doação”, completou o padre Samuel Camacho, pedindo aos jovens que possam «lavar os pés» a tantos outros coetâneos seus. 
O sábado foi encerrado com a vigília de oração com adoração ao Santíssimo Sacramento na igreja de Santa Maria que se centrou na agonia de Jesus, antes de ser preso para ser condenado à morte, e na qual participou também o bispo do Algarve, D. Manuel Quintas. “Como Jesus esteve no Horto das Oliveiras em agonia rezando ao Pai, também os jovens rezaram diante de Jesus, partilhando a sua própria «agonia», para encontrarem n’Ele a esperança que renova a sua vida”, explicou ao Folha do Domingo o padre Samuel Camacho, que presidiu à celebração na qual foi pedido aos jovens para escreverem num papel as suas “angústias, medos e incertezas” que depois foram colocadas aos pés do Santíssimo Sacramento. O assistente do SDPJ exortou ainda os jovens a entregarem a sua vida a Deus, se a isso foram desafiados durante aquela vigília.
 
No domingo, a Eucaristia de encerramento da JDJ, prevista realizar-se na Praça do Infante, acabou por ser celebrada na igreja de Santa Maria devido ao forte vento que se fazia sentir. O bispo do Algarve, que presidiu à celebração que contou com um memorial dos símbolos que marcaram a JDJ junto da mesa da Eucaristia, lembrou aos jovens que o objetivo daquela atividade foi o encontro com Jesus, “pois só Ele é a fonte da verdadeira esperança”. 
“É importante sermos gente que cultiva esta esperança, particularmente no meio das dificuldades, nos desertos da nossa vida, em situações como esta que vivemos, em que não se vislumbra para onde caminhamos. A situação de guerra que persiste pode deixar-nos sem coragem de olhar o futuro, sobretudo a vós que sois aqueles que mais pagais nestas circunstâncias em que os vossos sonhos correm o risco de não se poder realizar, em que tudo aquilo que vislumbramos de bom para a a humanidade corre o risco de não se concretizar. Não podemos, em circunstância nenhuma, perder a esperança”, prosseguiu D. Manuel Quintas, aludindo à mensagem do Papa para a Jornada da Juventude deste ano. 
Considerando que “quem recorre à presença de Jesus na Eucaristia caminha sem se cansar”, o bispo diocesano destacou Carlo Acutis, que será canonizado no Jubileu dos Adolescentes de 25 a 27 de abril do próximo ano, como “referência de uma vida verdadeiramente eucarística, fazendo da Eucaristia o centro da sua vida, a fonte da verdadeira esperança”. 
D. Manuel Quintas disse ainda aos jovens que eles são chamados a ir ao encontro de “quantos precisam de sentir o amor do Pai” e que a diocese algarvia estima e precisa da sua colaboração. “Gostaria que cada um de vós sentísseis o abraço do bispo, de toda a nossa Igreja diocesana que só quer o vosso bem, que quer sentir-se rejuvenescida com a vossa presença, com o vosso serviço, com a vossa participação que espero que não esmoreça, que está a crescer e a deixar-nos a todos com mais esperança em relação ao futuro da nossa diocese”, afirmou.
No final da celebração, o coordenador do SDPJ João Costa agradeceu emocionado às paróquias e ao município de Lagos, às juntas de freguesias de São Gonçalo de Lagos, do Barão de São João, de Bensafrim, da Luz de Lagos e à PSP por todo o apoio e colaboração. 
 
Admitindo que esta possa ter sido a última JDJ tendo como bispo da diocese D. Manuel Quintas, o SDPJ presenteou o bispo do Algarve com uma camisola com a inscrição M. Quintas e o número 33, referente a ser o 33º bispo da diocese sediado Faro, igualando o número dos que serviram a diocese em Silves. “É normal um bispo terminar a sua missão e vir outro. Devemos ver isto com muita normalidade, com espírito de confiança, de fé e, sobretudo, de muita adesão à pessoa de Cristo. Ele não muda. Mudam os párocos, mudam os bispos, mudam até os responsáveis da Pastoral Juvenil. Ele não muda, é sempre o mesmo. Ontem, hoje, amanhã e sempre. E seja aqui, seja onde nós estivermos. Por isso, tem de ser Ele o centro da nossa vida”, afirmou D. Manuel Quintas, que agradeceu, em nome da diocese, à equipa do SDPJ pelo seu serviço e também pelo “espírito” que os “anima” e pelo modo como servem a diocese. 
O bispo diocesano agradeceu também às paróquias de Lagos. “Vi pessoalmente a alegria com que acolheram o anúncio e a preparação da jornada e já sabia que vos iam receber de coração aberto com este espírito de família que carateriza estas paróquias. Hoje terminaste esta missão, mas este estilo deve continuar. Esta maneira de ser, de fazer, de realizar tem de continuar porque isso é muito importante para a nossa diocese toda”, pediu no final da Missa que contou com a participação da vereadora Sara Coelho em representação da Câmara Municipal e da presidente da Assembleia Municipal, Joaquina Matos, bem como com representantes de alguns departamentos e secretariados da Diocese do Algarve e do Corpo Nacional de Escutas. 
A Eucaristia terminou com o anúncio do Bispo do Algarve de que a edição do próximo ano será realizada em Faro e com a passagem da cruz das JDJ dos jovens de Lagos aos das paróquias da capital algarvia.
 
 
Folha do Domingo