Este sábado (24 de fevereiro), uma sala em Boliqueime encheu-se para receber a coordenadora do Bloco de Esquerda. O almoço-comício contou com intervenções de Mariana Mortágua, José Gusmão (cabeça de lista por Faro), Guadalupe Simões, João Afonso e António Branco (mandatário da campanha no distrito).

Mariana Mortágua falou do peso do turismo na economia no Algarve, que se "traduz em muito emprego sazonal e em muito emprego mal pago". Sobre a crise de habitação, acrescentou que "a oferta de habitação é sazonal, e está desencontrada com atividade económica: quando há casa não há trabalho e quando há trabalho não há casa".

Às "vozes que seguem cartilha neoliberal ou liberal, que julgam que o problema da habitação se resolve construindo cada vez mais e em todo o lado", Mariana Mortágua deixou um conselho: "Visitem qualquer um dos concelhos do Algarve, e vão encontrar construção contínua, por todo o lado, mesmo em áreas protegidas ambientalmente, mesmo em zonas saturadas de construção, e os problemas de acesso à habitação e de custo da habitação não se resolveram". A coordenadora do Bloco frisou que as casas construídas "não são para quem vive e trabalha no Algarve", mas para quem quer visitar o país por um curto período ou para fundos que consideram que ter casa nesta região é um investimento. "São precisas casas para viver, casas que os salários possam pagar. Há muitos setores económicos com potencial de investimento para apostarem o seu dinheiro e há muitos hotéis para acolher os turistas".

José Gusmão, cabeça de lista do Bloco no Algarve, falou sobre a "catástrofe da água" na região. Para o candidato, é preciso "resolver o problema da água e da desigualdade", o que não passa pelos cortes cegos para famílias e agricultores impostos pelo Governo e poder local. José Gusmão considera que esta é uma medida "ineficaz e injusta", cujo efeito é "penalizar as famílias, e particularmente as famílias com menores rendimentos".

A par de medidas de emergência, o candidato bloquista defende que é necessário "pensar o que fazer no futuro", apostando num modelo económico compatível com a realidade ambiental do Algarve. Para tal, é preciso fazer "escolhas corajosas e que responsabilizem aqueles que definem o modelo económico no Algarve".

José Gusmão referiu ainda que o Algarve tem sido esquecido pelos poderes políticos e, principalmente, pelo Governo central, e que é preciso "vencer este esquecimento crónico" e garantir o necessário investimento estruturante.

Guadalupe Simões, segunda candidata nas listas do Bloco como independente e dirigente do Sindicato dos Enfermeiros, acredita que é preciso voltar a ter representação parlamentar do Bloco de Esquerda no Algarve, em defesa da região e dos algarvios. "A porta que Abril abriu não pode ser encerrada", vincou.

A enfermeira recordou o que o setor privado fez durante a pandemia da covid-19, recusando pessoas infetadas, e defendeu que o SNS é aquele que serve os interesses e as necessidades da população portuguesa.

João Afonso, professor e quinto candidato do Bloco por Faro, fez a defesa do investimento na Escola Pública, explicando que o desinvestimento a que a Educação tem sido sujeita resultou, nomeadamente, "em profissionais desconsiderados e sem carreiras dignas e rácios absurdos, para não dizer abusivos". O professor fez referência específica aos Assistentes Operacionais que, segundo defendeu, merecem ter uma carreira.

João Afonso alerta que a escola pública não está atualmente a assegurar condições e oportunidades iguais a todos os alunos. "Se continuarmos a desinvestir na escola pública, a famosa função de elevador social que tantos apregoam deixará de existir", realçou.

António Branco, o mandatário da candidatura do Algarve, assinalou que o resultado do voto útil nas últimas eleições foi "uma maioria absoluta inesperada e indesejada". Desse resultado tirou algumas conclusões. Por um lado, "a concentração de votos num só partido em nome do medo provoca resultados indesejados e elimina a produtividade à esquerda para definição de políticas públicas". Por outro lado, "a geringonça ensinou-nos que só uma maioria das esquerdas tem condições de desenvolver políticas públicas que ataquem os problemas mais urgentes do país".

O mandatário da candidatura destacou a mais valia de eleger José Gusmão pelo círculo eleitoral do Algarve, afirmando considerar que o mesmo tem uma "enorme qualidade humana e intelectual, está muito bem preparado e é incansável na defesa das políticas públicas que defendem o Estado Social e o ambiente".

 

Bloco de Esquerda/Algarve