O Autódromo Internacional do Algarve (AIA) foi planeado em 2001 pelo ateliê de arquitetura de Ricardo Pina, a convite do administrador Paulo Pinheiro, e inaugurado sete anos depois, após 11 meses de obras em contrarrelógio.

“Na altura, sabíamos muito pouco sobre o que era um projeto deste género. Fomos obrigados a fazer um grande trabalho de investigação, cruzando a regulamentação das federações internacionais de automobilismo e motociclismo com as condições do terreno em causa e as pesquisas sobre outros circuitos”, recordou à Lusa o projetista algarvio.

Aportando experiência como piloto de motos todo-o-terreno, Ricardo Pina trabalhou com Jorge Guerreiro, Paulo Simões e Pascoal Santos em prol de um recinto “fora do comum”, situado entre a estância balnear de Portimão e a vila montanhosa de Monchique.

“O Paulo Pinheiro incentivou o circuito na forma como o conhecemos, cuja grande diferença passa pelos acontecimentos proporcionados. Tirando a reta da meta, toda a restante pista é feita numa sequência de subidas, descidas e 15 curvas, algumas delas cegas, que a tornam sempre única e formam uma estrutura de última geração”, analisou.

Apesar dos progressos obtidos pelo atelier sediado em Portimão, a aprovação do AIA esbarrou na instabilidade governativa sentida até março de 2005, quando adquiriu novo impulso com a tomada de posse do executivo liderado pelo socialista José Sócrates.

“Os Governos estavam sempre a mudar. Parecia que a obra estava quase a acontecer, mas nunca acontecia. Levámos muito tempo a reunir condições para iniciar a obra. Foi um processo complicado em termos administrativos, embora essa espera tenha ajudado a aperfeiçoar o projeto e a contribuir para o sucesso que veio a ter”, ressalvou.

Acordado o método de financiamento, Ricardo Pina começou a desenvolver a pista de 4,692 quilómetros em dezembro de 2007, tomando como “taxativa” a conclusão em outubro de 2008, a tempo de acolher a última etapa do Mundial de Superbikes.

“Dos 11 meses de construção, mais de dois consistiram em movimentos de terra. A área disponível era muito mais acidentada do que atualmente e tentámos tirar partido disso. Só que alguns edifícios de grande dimensão obrigaram a uma implantação plana, como o ‘paddock’, as áreas de estacionamento, a bancada principal e a reta da meta”, partilhou.

O AIA resultou de um investimento inicial de 115 milhões de euros (ME) e projetou infraestruturas de apoio ambiciosas e modernas, favoráveis ao desenvolvimento económico e social de uma região dependente do setor turístico, recebendo homologação federativa a tempo da estreia prometida.

“Apesar de alguns comentários críticos, ouvimos um ‘feedback’ global contrário desde muito cedo. Antes de a obra estar acabada, recebemos federações, equipas, pilotos e todos pensaram logo que o circuito seria um sucesso. Ficámos mais tranquilos, mas sem saber o que aconteceria, por exemplo, numa primeira corrida de Fórmula 1”, lembrou.

A estreia no fim-de-semana entre 31 de outubro e 02 de novembro de 2008 “agradou bastante” aos milhares de espetadores e às altas entidades, compensando “muitas noites sem dormir” para cumprir calendário e orçamento numa extensão de 300 hectares.

“Houve um episódio curioso: [o heptacampeão de Fórmula 1] Michael Schumacher estava na Alemanha a ver os treinos de Superbikes, achou a pista interessantíssima pela televisão e voou para Faro no próprio dia para assistir à corrida. Semanas depois, regressou ao autódromo com a BMW e esteve a andar de moto”, recordou Ricardo Pina.

A pista lusa passou a ser destino de diversas categorias do desporto motorizado, mas viu-se obrigada a recorrer a um Processo Especial de Revitalização (PER), devido a cerca de 160 ME de dívida corrente e não corrente, provocada, em grande parte, pela insolvência de um grupo irlandês que tinha assinado contratos de promessa de compra e venda da componente de imobiliário turístico no valor de 41,5 ME.

“O autódromo corresponde àquilo que idealizámos e está concluído. Poderá ser alvo de intervenções e há edifícios que gostaríamos de melhorar, até porque foram cometidos alguns atropelos. São apenas preocupações de arquitetura, que o público em geral não repara nem têm qualquer interferência no perfeito funcionamento da estrutura”, frisou.

A Portugal Ventures, sociedade de capital de risco público, integra a estrutura acionista da Parkalgar desde 2009, mas a conclusão do projeto, após o PER, resultou, de acordo com o AIA, de "capitais privados de financiadores que continuaram sempre a acreditar no projeto e com o cash-flow gerado regularmente pela Parkalgar".

A pandemia de covid-19 reavivou o sonho de Paulo Pinheiro e viabilizou o retorno da Fórmula 1 a Portugal em 25 de outubro, 26 anos após a despedida do Estoril, de onde o MotoGP, que também regressa no domingo através da pista algarvia, partiu em 2012.

“Quando iniciámos o projeto, a F1 estava a perder alguma audiência por ser muito monótona. Desenhámos situações que provocassem mais ultrapassagens, algo que se verificou imenso no mês passado em Portimão. Até nesse aspeto confirmou que o AIA foi um trabalho bem feito e é uma obra que está para durar”, finalizou Ricardo Pina.

 

Por: Lusa