António Dores, antonio.humberto.dores@gmail.com

Era noite de mar chão e aventurei-me nesse deserto de água e sal

Viajei para as terras do Brasil entrando pelas águas de Portugal

Naveguei milhas e milhas, até que o mar embraveceu

Tudo no barco eram quilhas, e o resto da madeira corpo meu

O mar levantou-se em bruto, erguendo muros a Atlas

E a viagem de orgulho, transformou-se em ondas de bravatas

A madeira rangia de dor, quando cavalgava as ondas

As Syrenas cantavam, himnos de perdição

E os meus companheiros de viagem, réquiens de maldição…

Tudo era negro ao redor das estrelas adormecidas

Na minha Terra Natal, havia já vivido muitas vidas

Agora esta era a minha última, a derradeira viagem

Lancei ferros à Loucura, tentando chegar à outra margem

Tudo era loucura, sem sentido, o sofrimento, a viagem

Tudo parecia perdido, mas restava ainda a coragem

Abracei então esse céu divino e avistei a minha estrela

Fui guiado pelo seu brilho, pela minha loucura e sentido dela…

Agora adormeço na praia, onde o meu barco fundeou…

Sou um filho de Portugal em Terra Estranha

E do Brasil, sou Avô…