O executivo municipal de São Brás de Alportel aprovou unanimemente a emissão de um voto de pesar pelo falecimento do médico pediatra Emídio de Sousa Sancho, cujo desaparecimento representa uma irreparável perda para a medicina no Algarve.

Emídio Sancho nasceu a 10 de julho de 1934, na maternidade Alfredo da Costa em Lisboa, numa família oriunda de São Brás de Alportel, que estava migrada em Alhos Vedros com atividade industrial corticeira. A sua infância foi passada entre Alhos Vedros, Barreiro e Algés.

Aos 11 anos, em 1945, por motivos de saúde do pai, a família regressa a São Brás de Alportel e vem viver para a Balsa, Poço dos Ferreiros, onde viveu até aos últimos dias.

O seu ensino secundário foi percorrido no Colégio Algarve em Faro. Conclui o ensino em 1952/53 e faz exame de admissão ao ensino superior.

Quando tinha 25 anos, em fevereiro de 1949, morre o seu pai, Joaquim José Sancho, no exercício do cargo de Presidente da Câmara Municipal.

A mãe, Rosinha Sancho, confessa-lhe um desejo do Pai: “... que estudasses em Coimbra e fosses Médico”, Universidade que tinham visitado numas férias ainda criança e onde assiste, atrás de umas cortinas, a um Doutoramento na sala de Atos. “- Então vamos para Coimbra, minha Mãe!” (in diário I).

Em 1954/55 matricula-se no curso de medicina na Universidade de Coimbra, ingressa no Orfeão Académico em fuga às praxes e tem que substituir Zeca Afonso que estava de saída…. Coimbra era grande polo intelectual e cultural do País em pleno Estado Novo. A formação é completa: técnica, cultural, intelectual, política, social, etc…

O seu curso parte para Itália para a viagem de finalistas. Foi o primeiro curso a ir sem regente e lá recebe a notícia dos primeiros conflitos em Angola.

Em 1961, Emídio Sancho é mobilizado pelo Exército, como médico de Companhia - Batalhão 141 na Damba. Exerce funções no Hospital da Damba (Carmona), de fevereiro 1962 a setembro de 1963. Com a colaboração do amigo e colega civil Dr. Granado e pessoal do pequeno Hospital da Damba, cria um mini-serviço de pediatria ambulatória, hoje considerado o primeiro serviço de pediatria ambulatória da história da pediatria nacional.

No outono de 1963, regressa a Coimbra, sem capa, frequenta a Especialidade de Pediatria nos Hospitais da Universidade, de setembro de 1963 a dezembro de 1967, tendo feito exame final na Ordem dos Médicos, aprovado por unanimidade com louvor. De um grupo de amigos e colegas, com a elevada mestria do Dr. Nicolau da Fonseca, surgiram os primeiros especialistas em Pediatria em Portugal.

Neste período, e para sustento, faz consulta na aldeia de Torres do Mondego, periférica a Coimbra, em instalações adaptadas pela população, e os amigos e colegas chamavam-lhe o “Pediatra Rural”.

Regressa ao Algarve no verão de 1968 com a esposa e dois filhos e foi o primeiro médico especialista em pediatria na região.

Criou um consultório de pediatria em Faro que pretendia exemplar e modelar, segundo os dados adquiridos em Coimbra e estágios em Barcelona. A inexistência de pediatria e um corpo clínico muito conservador, em colisão com o seu estilo, não permitiram entrada no velho Hospital de Faro.

Entretanto, o consultório privado em Faro começa a ganhar forma e, paulatinamente, tornar-se na sua realização profissional e pessoal, funcionando ininterruptamente 47 anos.

Dois velhos amigos e colegas criam condições para fazer consulta externa de Pediatria no, então velho e degradado, Hospital de Loulé.

Em 1971, com muita dificuldade, convence o seu grande amigo João Dias a vir de Alcoutim para um projeto de saúde pioneiro no novo Hospital de São Brás de Alportel, acabado de construir pelo benemérito Sr. José Lourenço Viegas.

Em finais dos anos 70, é construído um novo Hospital em Faro e Emídio Sancho, com uma atividade profissional frenética em curso - diariamente fazia o triângulo: Faro, São Brás de Alportel, Loulé - começa a colaborar no projeto deste Hospital, onde ingressou em 1981 e criou o serviço de Consulta Externa. 

Por esta altura, casou pela segunda vez e teve a terceira filha, Rosa Sancho.

Emídio Sancho criou a Associação de Pediatria Ambulatória do Sul – APAS, da qual foi presidente. Com seu velho mestre Nicolau da Fonseca, criou também a Secção de Pediatria Ambulatória da Sociedade Portuguesa de Pediatria SPA-SPP, da qual foi igualmente presidente.

Continuou a atividade profissional com elevada qualidade e bom ritmo até 2010 no Hospital de Faro e no seu querido consultório que encerrou em 2014.

Os seus últimos anos de vida foram vividos de forma tranquila, na Quinta da Balsa. Faleceu aos 87 anos.

Neste momento de profunda tristeza, em nome do município e da comunidade são-brasense, que tanto lhe deve, o Município de São Brás de Alportel emite um sentido voto de pesar, de homenagem e reconhecimento deste grande homem que se dedicou à medicina pediátrica, foi uma referência entre os seus pares e é ainda hoje uma figura incontornável da pediatria no Algarve, e expressa as mais sinceras condolências e a solidariedade fraterna à sua família.