Quase todos os historiadores estão de acordo que o atentado bem-sucedido contra o herdeiro do Império austro-húngaro, em 1914, desencadeou a Grande Guerra, que levou à Segunda Guerra Mundial, que originou a Guerra-fria, que gerou a hiperpotência única e outros males afins. Como seria perfeito podermos voltar atrás e alterar o que correu mal!
Alguns filósofos admitem que, devido à extensão infinita do Universo, toda a nossa História estará, também, a decorrer num número inimaginável de outros mundos, em incontáveis variantes.
A ideia é aliciante. E a ficção contorna todas as limitações: «Ao abrigo de um programa secreto, foi enviado um observador a um planeta a 160 milhões de anos-luz de distância, onde o atentado de 1914 não resultou, para perceber que pormenor alterou o rumo da História.
Seguiu o estudante radical que, na Terra, tinha abatido o arquiduque e ouviu os seus correligionários da “Mão Negra” combinar as posições nas ruas de Sarajevo e as armas a usar, mas não é possível relatar aqui todas as movimentações do grupo que se concluíram sem o assassinato do arquiduque.
O investigador ficou feliz pelo resultado, mas sem conseguir descortinar a causa. Curioso, aguardou mais um mês. O imperador Francisco José acusou a Sérvia de fomentar a sublevação, fazendo várias exigências de controlo. A Sérvia não aceitou algumas delas. Então, o Império austro-húngaro atacou a Sérvia, a Rússia foi defendê-la, a Alemanha juntou-se ao Império, e, também ali, alastrou a guerra. Como na Terra.
O viajante espaço-temporal deduziu que o atentado não terá sido tão decisivo como se pensa. Vivia-se uma atmosfera de confrontação no continente, determinada pela atitude belicosa das potências envolvidas. Qualquer pretexto lhes serviria para prosseguir políticas de domínio global.
Para o ano, partirá com a incumbência de averiguar que pretextos foram usados para começar a guerra contra o Iraque e a guerra contra a Ucrânia, em três pontos diferentes do Universo.»