Por F. Inez

Afastada que parece começar a estar essa maldita praga com que a que a Natureza nos castigou …   a pandemia do vírus Covi-19 … pelo menos na sua componente mais agressiva e implacável … aí os temos de volta os nossos festejos da famosa Batalha das Flores do Carnaval de Loulé!

Foram três longos anos que voltaram do avesso a vivência e a convivência de todos nós por esse mundo fora e que marcaram para sempre a História da Humanidade … levando consigo os sonhos e a vida de muitos dos nossos semelhantes. E é assim que, enquanto a Natureza nos permitir, vamos começar aos poucos a regressar aos nossos ritmos a que a vida nos habituou!

De origens remotas e incertas, vindas de Civilizações longínquas … da Mesopotâmia, das Antigas Grécia e Roma … o Carnaval é frequentemente associado a celebrações que invocam o mundo de cabeça para baixo, em que a ordem das coisas era temporariamente invertida, com bebedeiras e toda a espécie de loucuras, um misto de libertação e de libertinagem, um período em que as pessoas extravasavam os seus desejos, antes da Quaresma. Tem subjacente a subversão da ordem, em que as coisas deixam de ser como habitualmente são … e temporariamente são o inverso.

Em determinado período longínquo da História foi associado ao Cristianismo … festa popular e tradicionalmente cristã, estabeleceu o período da Quaresma para controlar aqueles impulsos. O Carnaval traz consigo a ideia de um mundo invertido, de cabeça para baixo. Tempos houve em que os prisioneiros eram, durante aqueles 5 dias, transformados em reis, para logo em seguida serem sacrificados, alguns com a pena de morte! Ainda hoje as pessoas se transfiguram e se mascaram para assumir atitudes e posturas que nada têm a ver com a sua postura normal e habitual … é como que uma libertação para as pessoas extravasarem os sus secretos desejos e frustrações, tantas vezes recalcados durante o resto do ano … é uma espécie de libertação encoberta pelo anonimato!

Embora ainda hoje os brasileiros continuem a assacar ao colonialismo português a origem de todos os seus males … esquecem-se, que pelo contrário … foram os colonos portugueses que levaram para o Brasil a tradição do Carnaval … hoje a maior festa popular do Brasil … como o seu expoente máximo no desfile no Sambódromo do Rio de Janeiro … autêntica obra de arte popular e considerado mesmo o mais aparatoso Carnaval do mundo! O nosso, o chamado Carnaval Civilizado, em oposição ao que anteriormente se praticava, repleto de atos indecorosos e por vezes violentos, data de 1906, impulsionado pelo louletano Ventura de Sousa Barbosa, e que, então,  incluía no seu programa uma matinée celebrada no Teatro Louletano, uma Batalha de Flores e um Bodo aos Pobres, e teve desde o seu início, para alem da sua componente lúdica e de diversão, uma finalidade filantrópica, o que está na origem da sua organização , mais tarde, ter passado para a Santa Casa da Misericórdia, situação esta que a partir de 1977 se alterou e passou para a Autarquia, tendo a elaboração dos carros alegóricos deixado de ser da iniciativa privada e passado  a ser da responsabilidade da Edilidade.

Os corsos carnavalescos foram interrompidos nos períodos críticos vividos durante a II Grande Guerra … 1939-45 e da Guerra Colonial Portuguesa … 1962-1974 e provavelmente também no período da I grande Guerra … 1914-18.  No mais antigo Carnaval do País, a sátira política, social e desportiva. continuam a ser as principais características dos carros alegóricos. Tempos houve em que São Braz do Alportel enviava um comboio para o nosso corso carnavalesco … até que finalmente os políticos louletanos abandonaram a ideia da linha do Caminho de Ferro fazer um desvio para passar pela então nossa Vila! A nossa Batalha das Flores é hoje, como aliás desde há muito, essencialmente um acontecimento e atrativo turístico. Estão novamente de parabéns os foliões … e a nossa Terra.