Paulo Freitas do Amaral, Professor, Historiador e Autor

Muito antes das praias, das falésias douradas e dos verões cheios de turistas, o Algarve foi cenário de uma descoberta que hoje entusiasma a ciência: uma nova espécie de dinossauro identificada em Portugal. Não se trata de um fóssil comum nem de um achado repetido, mas de um dinossauro até agora desconhecido, que viveu no sul do território português há cerca de 150 milhões de anos, no final do Jurássico.

O animal pertence ao grupo dos iguanodontianos, grandes dinossauros herbívoros que dominaram vastas regiões da Europa pré-histórica. Eram robustos, de corpo maciço, cauda longa para equilíbrio e membros anteriores fortes, capazes de alternar entre a locomoção em duas ou quatro patas. Esta versatilidade permitia-lhes deslocar-se com eficiência e alcançar diferentes tipos de vegetação.

Naquele tempo remoto, o Algarve estava longe de ser o que conhecemos hoje. O clima era quente e húmido, a paisagem marcada por planícies verdejantes, rios sinuosos e florestas densas, povoadas por fetos gigantes, coníferas primitivas e outras plantas anteriores ao aparecimento das flores. Era um ambiente ideal para grandes herbívoros, que se alimentavam de folhas duras, rebentos e vegetação abundante.

O que torna este dinossauro verdadeiramente especial é o facto de os fósseis encontrados apresentarem características anatómicas únicas. A análise detalhada dos ossos revelou diferenças claras em relação a outras espécies conhecidas, permitindo aos investigadores concluir que estamos perante uma espécie nova para a ciência. Este detalhe é decisivo, porque demonstra que o território que hoje é Portugal teve uma fauna própria, com linhagens distintas das restantes regiões europeias.

A descoberta reforça a importância de Portugal no estudo da evolução dos dinossauros. Durante o Jurássico, a Península Ibérica funcionava como uma zona de contacto entre diferentes massas continentais, favorecendo migrações, mas também o surgimento de espécies singulares. O dinossauro algarvio agora identificado é mais uma prova de que este território foi um verdadeiro laboratório natural da evolução.

Há ainda um impacto simbólico difícil de ignorar. Pensar que, onde hoje existem cidades, estradas e praias, caminharam durante milhões de anos gigantes pré-históricos, ajuda-nos a compreender a profundidade do tempo e a riqueza do património natural português. A história de Portugal não começa apenas com castelos, reis ou caravelas; começa muito antes, escrita na rocha e nos fósseis.

Este novo dinossauro devolve ao Algarve um passado inesperado e fascinante. Um passado em que Portugal não era apenas terra de navegadores, mas também terra de dinossauros.