O herói que batizou Guimarães e que foi esquecido!
Guimarães é muitas vezes apresentada como o berço da nacionalidade, a cidade onde nasceu Portugal. No entanto, há uma figura incontornável dessa história que, curiosamente, continua praticamente ausente da paisagem urbana vimaranense: Vimara Peres.
Poucos saberão que este homem, ativo no século IX, foi um dos grandes responsáveis pela reconquista e repovoamento da região entre o rio Minho e o Douro. Nomeado pelo rei Afonso III das Astúrias como conde, Vímara Peres fundou e reorganizou territórios estratégicos no Noroeste da Península Ibérica, estabelecendo uma base de poder que abriria caminho ao futuro Condado Portucalense.
Mais impressionante ainda: o nome da própria cidade de Guimarães tem origem direta no seu. “Vimaranis”, a designação medieval do lugar que ele fundou, viria a evoluir linguisticamente até à forma que conhecemos hoje — Guimarães. Assim, dizer que alguém é vimaranense é, literalmente, evocar o nome de Vimara Peres. No entanto, essa ligação continua esquecida ou pelo menos pouco valorizada.
Não existe, em Guimarães, qualquer rua, largo, estátua ou monumento dedicado a esta figura fundadora. A única escultura de homenagem está... no Porto. Ironicamente, foi na Invicta que se reconheceu o papel de Vimara Peres, através de uma estátua na zona da Sé. Guimarães, apesar de toda a sua narrativa identitária, ainda não lhe prestou tributo.
A verdade é que, ao longo dos anos, algumas vozes sugeriram a construção de um memorial ou a designação de um espaço público em honra de Vimara Peres. A própria Câmara Municipal terá, em tempos, admitido essa possibilidade. Contudo, até hoje, nada se concretizou.
É legítimo perguntar: como é possível que a cidade cujo nome nasceu do nome de Vimara Peres não tenha ainda celebrado de forma visível o seu fundador?
Valorizar a memória histórica não é apenas um gesto simbólico. É um ato de consciência coletiva. Reconhecer figuras como Vimara Peres é reconhecer as raízes da nossa identidade local e nacional. Em tempos em que tanto se fala da importância da História e da preservação do património, talvez seja o momento certo para Guimarães olhar para trás e reparar nesta ausência.
Mais do que um dever de memória, é um gesto de justiça histórica.