Por F. Inez

O idadismo … palavra pouco conhecida, pouco ou nada utilizada nos órgãos de comunicação social e muito menos na nossa linguagem coloquial … do dia a dia …  mas cujo significado cresce de dia para dia … diria mesmo que se agiganta num mundo cada vez mais envelhecido. De acordo com a Organização Mundial de Saúde, o idadismo refere-se aos estereótipos, aos preconceitos e à discriminação, ou seja, à forma como pensamos, como nos sentimos e como agimos em relação aos nossos semelhantes, em função da sua idade. Aplica-se a qualquer idade, mas na prática é sobretudo dirigido aos mais velhos … é a partir da terceira idade que o idadismo atinge a plenitude do seu significado, e assume sobretudo os aspetos mais preocupantes e negativos dessa fase da vida. Como sabemos, a vida humana percorre diversas fases … à infância e adolescência, seguem-se a 2ª idade da vida, a idade adulta … que vai até aos 64 anos … depois do que surge a bem conhecida 3ª idade.

Vai sendo cada vez mais frequente considerar-se também a 4ª idade ….  a partir dos 85 anos ... e um pouco até por graça, há até já quem considere a 5ª idade …. depois dos 100 anos! Em 2022 viviam em Portugal 2940 pessoas com 100 ou mais anos de idade! Se o aumento espetacular da esperança de vida das últimas décadas se pode considerar uma das maiores conquistas da Civilização … hoje, aos 65 anos espera-se viver, em média, mais 13 anos, mas muito poucos com saúde e autonomia. Mas a contrapartida …  o reverso da medalha ... é hoje um dos maiores desafios do século XXI na generalidade dos países europeus, onde o peso da população idosa duplicou nos últimos 30 anos … uma quarta parte da população portuguesa tem atualmente 65 ou mais anos!

De acordo com o Instituto Nacional de Estatística, o ratio do número de idosos por cada 100 jovens, passou de 66 idosos, em 1990, para 182 idosos, em 2022, por cada 100 jovens … triplicou no espaço de 30 anos, o que, conjugado com a não renovação de gerações que se vem verificando …  pela diminuição cada vez maior do número de nascimentos … coloca gravíssimos problemas como a diminuição progressiva da população em idade ativa … prevê-se mesmo que, em meados deste Séc XXI, 50% da população seja economicamente inativa … o que naturalmente coloca previsões inquietantes … como a falência do modelo  do Estado Social com perda de regalias e do bem-estar, a quebra da solidariedade geracional com a insustentabilidade do fundo de pensões de reforma, a descaracterização da estrutura populacional com minoria étnica da população no seu próprio país … pelo aumento simultâneo da imigração proveniente de países mais pobres … turbulência social, política, e religiosa com risco para os valores fundamentais da Civilização Ocidental.

Remetendo a análise e o desenvolvimento destes gravíssimos problemas para uma outra oportunidade, concentremos, por agora, a nossa preocupação no idadismo que inevitavelmente acompanha o envelhecimento da população. Começa na infância e é reforçado com o tempo. Tem consequências graves para a saúde, para o bem-estar, e para os direitos humanos. O envelhecimento é, naturalmente, uma inevitabilidade biológica e traz consigo um declínio progressivo de todas as funções e capacidades do organismo humano … o idoso é, por isso mesmo, um ser frágil e suscetível de sofrer violências e abusos. Longe vão os tempos em que os idosos envelheciam no seio da sua família … hoje, desprezados e abandonados pelo ambiente social … em tempos, a irresponsabilidade de alguns políticos portugueses até lhe chamou “peste grisalha” … quantas vezes também pela sua própria família … ao mais pequeno sinal de dependência física ou mental são empurrados para fora do ambiente familiar, ou mesmo abandonados à sua sorte e à sua própria solidão … ou, na melhor das hipóteses, para lares nem sempre existentes …ou sem o  mínimo de condições.

O envelhecimento demográfico é hoje uma das mais profundas mudanças sociais contemporâneas e um fenómeno social sem precedentes na História da Humanidade. Como se irão organizar as sociedades com esta nova ordem demográfica, cada vez mais desfalcada dos seus elementos jovens e progressivamente constituída por elementos mais velhos … constitui um enorme desafio para o futuro! Mas não gostaria de terminar sem uma mensagem de esperança … o acumular dos anos também tem as suas virtudes  … a velhice, não obstante a diminuição mais ou menos generalizada das capacidades, das limitações e vulnerabilidades, é o ponto mais alto da sabedoria, do bom senso e da serenidade … além disso, a vida é em si mesma, um projeto interminável …