André Magrinho, Professor universitário, doutorado em gestão | andre.magrinho54@gmail.com

Em abril de 2023, a Finlândia tornou-se o 31º membro a integrar a NATO-Organização do tratado do Atlântico Norte, justamente por ocasião do seu 74º aniversário. E, tudo indica que a Suécia também a venha a integrar em breve. Contrariamente aos que, ainda não há muito tempo, vaticinavam a sua obsolescência, e mesmo a sua morte cerebral, tal não se verificou. Pelo contrário, ganhou um novo élan com a invasão da Ucrânia pela Federação Russa, em 24 de fevereiro de 2022. Perante um novo contexto geoestratégico e uma nova ordem Internacional emergentes, a perceção das ameaças e das necessidades de segurança e defesa ganham novos contornos.  

O mar báltico torna-se um imenso lago NATO, configurando a mais extensa fronteira com cerca de 1340 km entre um país da NATO e a Rússia, além de que esta fronteira fica próxima da grande base naval russa de Murmansk, que serve de abrigo a submarinos nucleares russos.  Neste sentido, pode-se dizer que ninguém fez mais pela NATO, nos últimos anos, do que Putin, com a designada “operação militar especial” na Ucrânia. A questão que se coloca é a de saber “se esta nova realidade configura um ponto de não retorno nas relações entre a Rússia e a NATO?  Declarações do porta-voz do Kremlin, citadas pela revista “Diplomatie”, Nº12 (maio - junho 2023), referem que “não há, num futuro previsível, esperança de melhoria nas relações entre a Rússia e o Estados Unidos que estão no mais baixo nível histórico”.

A nova estratégia de política externa russa apresentada recentemente, em 31 de março, vai ainda mais longe, ao referir que “a Rússia confere uma atenção prioritária à eliminação dos vestígios da dominação dos Estados Unidos e de outros Estados hostis nos assuntos mundiais”. Na verdade, quando foi criada em 1949, a NATO pretendia ser uma solução temporária, até que os estados europeus estivessem em condições de assumir a sua própria segurança e defesa. Por sua vez, os EUA vinham há mais de uma década a dar sinais de muito menor investimento e comprometimento na geografia europeia e do Médio-oriente, reorientando as suas prioridades estratégicas para o Indo-pacifico. Além disso, é nessa imensa região que está o seu maior rival estratégico, a China, e também para aí conflui o eixo mais dinâmico da economia mundial.

Entretanto, em relação à segurança e defesa, a história decidiu de modo contrário. Face à guerra na Ucrânia, a ameaça russa, sobretudo no flanco oriental da Europa passou a ser tomada a sério, e vertida no novo conceito estratégico da NATO, anunciado em julho de 2022, ao referir que “A Federação Russa constitui a ameaça mais importante e a mais direta para a segurança dos aliados e para a paz e a estabilidade na zona Euro-atlântica”. Este novo conceito justifica assim o novo rearmamento da Europa, algo secundarizado durante muitas décadas. É neste contexto, que a NATO está a reconsiderar os seus novos planos de defesa, polarizados na ameaça russa, para vir a dispor de mais de 300 mil soldados em estado de preparação elevada.