André Magrinho, Professor universitário, doutorado em gestão | andre.magrinho54@gmail.com

A 15ª cimeira dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) reuniu-se entre 22 e 24 de agosto, na África do Sul, com expetativas muito elevadas, em razão de uma agenda desafiante em matéria de objetivos futuros, mas também pela circunstância do presidente russo, Putin, não ter arriscado participar presencialmente, devido ao mandado de prisão do Tribunal Penal Internacional de que é alvo. Os BRICS atuais já representam mais de 42% da população mundial e 30% do território do planeta, além de 23% do produto interno bruto (PIB) e 18% do comércio global.  Faz, por isso, sentido questionar se os BRICS poderão afirmarem-se com um protagonismo internacional, ao nível do G7, que reúne os países mais industrializados do mundo? É pouco provável que o consigam, pelo menos a curto e médio prazo, dada a heterogeneidade e a divergência de interesses dos Estados que compõem os BRCS, agora alargados a mais seis países (Irão, a Argentina, Etiópia, Arábia Saudita, Egito e Emirados Árabes Unidos) a partir de 2024.

Todavia, no plano estritamente económico, em razão da escala dos países que deles fazem parte, são parceiros económicos incontornáveis. Sobretudo a China e a Índia, os dois países mais populosos do mundo, com cerca de 1,4 mil milhões de pessoas cada. Mas, também no plano geopolítico, a China é o grande desafiante daquela que ainda é a maior potência mundial, os EUA. A Índia, por sua vez, tende cada vez mais a seguir-lhe o rasto, beneficiando de uma população que já supera a da China, com a vantagem de ser muito mais jovem, além de que é uma democracia. Por isso, não vai aceitar facilmente a liderança da China, como aliás ficou patente na intervenção do presidente indiano, Modi, nesta cimeira “a Índia será o motor de crescimento da economia mundial, antecipando uma economia na ordem dos 4,5 biliões de euros”.

Quanto à Rússia, é o país mais extenso do mundo, ainda que puco populoso, com uma economia relativamente frágil, mas com funcionalidades internacionais importantes, nomeadamente como fornecedora de matérias-primas energéticas e minerais, muto importantes para o modelo agro-alimentar dominante e também para a transição digital. Acresce ainda o poder nuclear que estes três países detêm.

O Brasil e a África do Sul são democracias e grandes economias emergentes com um protagonismo internacional crescente, que têm vindo a estreitar relações comerciais com as três principais economias dos BRICS. Analisando a história e os interesses geopolíticos e estratégicos dos três principais países dos BRICS, a China, a índia e a Rússia, é difícil perspetivar acordos e consensos de elevado alcance estratégico, porque tais interesses são dificilmente compagináveis.  Mas, isso não impede que se verifique entre os BRICS um significativo incremento da cooperação e das relações comerciais com a criação de importantes instrumentos de cooperação, como aliás já é o caso com o Banco dos BRICS.

Também alguma de progressão para uma “desdolarização”, ainda que tímida, do comércio internacional resultante de acordos comerciais nas suas moedas, nomeadamente a Rúpia e o Yuan. O que parece ser de todo inviável num horizonte próximo é uma “moeda única”, como foi ventilado pelo presidente Lula da Silva, porque não se vislumbra qualquer possibilidade de criação de um banco central para os países que compõem os BRICS. Portugal tem um importante acervo de relações históricas, culturais e económicas com quatro dos cinco (India, China, Brasil e África do Sul) atuais BRICS, produto da herança dos descobrimentos, do período colonial e das diásporas portuguesas, que poderá valorizar em seu favor, através de uma política inteligente de relacionamento comercial e de investimento.