André Magrinho, Professor universitário, doutorado em gestão | andre.magrinho54@gmail.com

As minhas primeiras palavras são para desejar, nesta quadra natalícia, à diretora da Voz de Loulé, aos colaboradores, leitores e famílias, Festas Felizes e a concretização de muitos desejos no novo ano que se avizinha.

2024 será naturalmente um ano de muitas esperanças, mas igualmente de muitos riscos, sejam para a democracia sejam a nível económico e geopolítico, à medida que se vão redesenhando os contornos de uma nova ordem internacional, marcada, cada vez mais, pela maior rivalidade entre os EUA e a China, onde emergem outras potências e poderes na cena internacional, nomeadamente os BRICS (Brasil, Rússia, china, índia e África do Sul), agora alargados a mais 6 países (Argentina, Arábia Saudita, Egito, Etiópia, Emirados Árabes Unidos, e Irão),  a par de  uma maior fragmentação social e política à escala global, em que as “democracias iliberais” e as autocracias ganham terreno às democracias.

Portugal vai a votos em março de 2024, na sequência da demissão do Governo e da dissolução da Assembleia da República, nas sequelas da polémica operação Influencer, da Procuradoria-Geral da República. O que está em jogo, de mais substantivo, é saber qual a maioria que vai emergir na AR, à esquerda polarizada no PS ou à direita no PSD, sendo aqui a questão mais crítica, uma possível dependência do apoio do Chega para governar.

Em qualquer caso é provável que o nível de estabilidade governativa, na imprevisibilidade de uma maioria absoluta, baixe consideravelmente.

No entanto, é positivo que se parta para esta disputa eleitoral com o Orçamento do Estado para 2024 aprovado (mesmo que um OE retificativo possa vir a existir), e também que as perspetivas de crescimento para a economia portuguesa sejam positivas (1,3%, Comissão Europeia), ainda que esse crescimento seja menor do que em 2023, conforme previsões do governo e de Organizações Internacionais.

Acresce o facto do rating de Portugal estar atualmente reforçado por parte das agências de rating internacionais. As contas públicas equilibradas dão frutos e melhoram as taxas de financiamento do serviço da divida, libertando recursos para financiar outras atividades.

Pelo mundo, realizar-se-ão cerca de 70 eleições em 2024, a que corresponde mais de 4,2 mil milhões de pessoas (mais de metade da população do mundo). É um teste para o estado da democracia no mundo, como refere a edição da Revista Economist “The Wurld Ahead 2024”.

Para além de Portugal, existirão eleições nos EUA (as de maior impacto global), na Bielorrússia, na Rússia (Putin deverá ser, sem surpresa, reeleito), na Indonésia, no Bengladesh, no Rwanda, no México (que deverá eleger uma mulher para presidente), em Taiwan (de enorme impacto geopolítico decorrente do estreito de Taiwan), entre muitos outros.

Em todo o caso, serão as eleições nos Estados Unidos, as de maior impacto global.  Estarão em causa os apoios à Ucrânia, as relações dos EUA com a união Europeia, as relações de força na nova ordem internacional que se está a redesenhar, e muito especialmente a democracia no mundo.

Caso Trump seja o candidato republicano escolhido (algo que os tribunais ainda podem inviabilizar), e poder ganhar as eleições americanas, sabendo que que este candidato está do lado das “democracias iliberais” e das autocracias, isso poderá significar um maior isolacionismo dos EUA. E, estará em causa, a prazo, a própria liderança dos EUA na cena internacional, algo que só é possível com uma ampla parceria internacional, mas contrário ao que Trump quer fazer.