Por: Padre Carlos Aquino | effata_37@hotmail.com

“A Palavra era a luz verdadeira” (Jo 1, 9). Foi uma Palavra que nos chamou à vida. Existimos porque essa Palavra nos habita. Ela ilumina e conduz. O Cristianismo, fruto dessa Palavra Criadora e Viva assim ensina. É nessa Palavra que são chamadas à luz outras palavras. São por essas, que nascem e crescem dentro de nós, que A dizemos e nos revelamos, comunicamos, reflorescemos, informamos. Podemos ser semeadores de palavras nos espaços onde imergimos a vida, resgatando-a do vazio e da escuridão. De palavras que edificam a cultura do encontro e da comunhão, oferecem a beleza narrativa da história, nos aproximam, criam pontes. As palavras nascem do mistério dessa fonte donde provimos. E todas as palavras são acontecimento. Elas desvelam esse mistério, desnudam-nos, dizem-nos. São linguagem que nos chama a edificar jardins.

Qual a palavra mais bela que guardamos? Que palavras nos revelam? Quais as que nos ferem? Com que palavras comunicamos? Para falar da beleza das palavras revisito um belíssimo texto de Santo Agostinho, Bispo de Hipona: “A voz sem a palavra entra nos ouvidos, mas não chega ao coração. Se penso no que vou dizer, já está a palavra presente em meu coração; mas, se pretendo falar contigo, procuro o modo de fazer chegar ao teu coração o que já está no meu. O som da voz leva ao teu espírito o sentido da minha palavra; e quando o som da voz te fez chegar o sentido da minha palavra esse mesmo som desaparece; mas a palavra que o som transmitiu está já em ti sem deixar de permanecer em mim. Retenhamos a palavra; não percamos essa palavra concebida no mais íntimo do nosso coração. A voz passa enquanto a divindade da palavra permanece”. Pela palavra continuemos a “gastar a sola dos sapatos”, caminhemos onde ninguém vai, vejamos com novo e purificado olhar, não construamos uma infinidade de nadas com palavras ocas, que não tocam e não dizem a vida. Pensei tudo isto no contexto da celebração do 69º aniversário deste Jornal “A voz de Loulé”.

Aqui as palavras são pontes, vida pulsante, cultura, uma estação para o encontro e a maturação. A minha profunda homenagem a todos os que fizeram e fazem parte dos seus órgãos diretivos, a todos os redatores e colaboradores, verdadeiros semeadores de palavras a edificarem jardins numa existência que não desejamos em aquário. Dedico-lhes as palavras do Beato Manuel Lazano Garrido aos seus colegas jornalistas: “Abre, maravilhado, os olhos ao que vires e deixa as tuas mãos cumular-se do vigor da seiva, de tal modo que os outros possam, ao ler-te tomar com as mãos o milagre palpitante da vida”.