Aproximam-se as celebrações dos santos e dos fiéis defuntos. Ainda hoje, nós tememos a morte, simplesmente, porque temos medo do nada, do vazio, da passagem para o totalmente desconhecido. Recusamos a morte porque não queremos acreditar que tudo o que de grande e belo aconteceu na vida, de repente se afunde no nada.
O amor clama sempre por eternidade e não podemos aceitar a destruição do amor, que a morte traz consigo. Ainda hoje, nós tememos a morte, porque ninguém é capaz de ignorar a sensação de um possível juízo, e perante a sua proximidade, todos os nossos medos e fracassos se tornam inexoravelmente presente. Daí o afeto e a ternura de amor que envolve e protege os defuntos. Ainda hoje, nós tememos a morte porque emudecemos a esperança e destruímos o caminho verdadeiro para a ela chegar, o sentido belo e verdadeiro da vida.
Este Dia da Comemoração dos Fiéis defuntos tão arreigado na cultura e piedade cristã, diz-nos, que Deus é mais forte que a morte, e que morrer em Cristo, é morrer para a vida. Em comunhão de santos sentimo-nos envolvidos pela vida. É assim que o cemitério, o lugar da tristeza e do efémero, se tornou para os cristãos, o lugar da esperança, o jardim de Deus, o espaço do repouso e da paz. Aqui afirmamos: Eu acredito em Cristo, o ressuscitado. Eu seguro-me em Ti, Senhor da Vida.
Eu não estou só na solidão mortal dos que não podem amar; eu estou na comunhão dos santos, que também na morte me acolhe. Aqui é-nos sempre recordada a morte e a vida eterna! Somos convidados a pensar sobre a nossa vida de peregrinos e sobre os horizontes da nossa meta. O que conta não é o que temos, mas o que somos para Deus e para as criaturas humanas. Aqui somos convidados a procurar e a viver de acordo com o que perdura na morte e na eternidade! Antecede esta celebração onde avivamos a caducidade e fragilidade da vida que recebemos a Solenidade de Todos os Santos. A liturgia da Igreja convida-nos a compartilhar o júbilo celeste dos Santos, a saborear a sua alegria. Os Santos não são uma exígua casta de eleitos, mas uma multidão inumerável, para a qual a liturgia nos exorta a levantar o olhar.
Para que servem os nossos louvores aos Santos, esta nossa Solenidade cristã? Contemplando o exemplo luminoso dos Santos, procuramos despertar em nós o grande desejo de ser como eles: felizes por viver próximos de Deus, na sua luz, na grande família dos amigos de Deus, no seu amor. Ser Santo significa viver na intimidade com Deus, viver na sua família. Esta é a vocação, o chamamento de todos nós, proposta hoje de novo à nossa atenção. Mas como é que podemos tornar-nos Santos, amigos de Deus? Não é necessário realizar ações nem obras extraordinárias, nem possuir carismas excecionais. É preciso sobretudo escutar Jesus e depois segui-lo sem desanimar diante das dificuldades.
Caminhar na esperança, na fé e no amor. Reencontrar o sentido da vida não no chão, no que passa, mas no Céu, em Deus. Quem n’Ele confia e O ama com sinceridade, como o grão de trigo sepultado na terra, aceita morrer para si mesmo, para dar fruto de vida. É preciso perseverar no compromisso, acreditar que a morada verdadeira é o Paraíso. A Santidade exige um esforço constante, mas é possível para todos porque, mais do que uma obra do homem, é sobretudo um dom de Deus!