O primeiro dia de cada ano civil é sempre celebrado por nós cristãos com a celebração solene de Santa Maria, Mãe de Deus. E por vontade expressa do Papa Paulo VI este Dia é vivido mundialmente como Dia de Oração pela Paz. Somos no início de cada ano convidados a dar graças a Deus pelo dom da vida, a assumir num novo percurso no tempo, a acolher a Paz não simplesmente como contrato humano, mas como dom de Deus, valorizando a nossa filiação divina em Jesus “nascido de mulher”, de Maria a Santa Mãe de Deus e Nossa Mãe.
Desejaria, hoje, recordar-vos a grande bênção, na consciência de que toda a nossa vida pertence ao Senhor e que quando vivemos no Senhor toda a vida se desenvolve em harmonia e no Bem: O Senhor te proteja; faça resplandecer sobre ti a Sua face e te seja favorável; O Senhor te conceda a Paz! Importa que neste principiar de ano e de tempo, de recomeço e de renascimento, acolhamos esta bênção, no desejo profundo de nos tornarmos acolhedores e construtores da Paz. Meditemos e vivamos o dom da Paz na construção efetiva dos laços de uma verdadeira fraternidade, que falta ao mundo e às nossas vidas. Aprendamos a viver em comunhão com os outros em quem nunca devemos encontrar inimigos, mas irmãos que devemos amar e abraçar.
A cultura hodierna da globalização tornou-nos vizinhos, mas não fez de nós irmãos. E a fé? Perante as inúmeras e graves situações de desigualdade, pobreza e injustiça; mergulhados pelas novas ideologias caracterizadas por generalizado individualismo, egocentrismo e consumismo materialista, onde cada vez mais se alimenta uma mentalidade do descartável, que induz ao desprezo, indiferença e abandono dos mais fracos, que fazemos nós pelo cuidado do outro, nosso irmão? E que realizamos impulsionados pelo dom da fé? A raiz de toda a fraternidade está contida na paternidade de Deus.
Quando Deus não é procurado, olhado, acolhido e amado como Pai, também o outro não é amado nem protegido e cuidado como irmão. Onde cresce um deficit de filiação divina cresce um deficit de humanidade e de fraternidade. Amamos pouco os irmãos sempre que é frágil e falso o nosso amor a Deus acolhido como Pai.
E a fraternidade é fundamento e caminho para a paz. Todo o desenvolvimento humano, fruto da solidariedade e da fraternidade gera a paz. Uma das formas mais importantes para se promover a fraternidade é o desapego vivido por quem escolhe estilos de vida sóbrios e essenciais aprendidos à luz do Evangelho e na identificação da vida a Jesus Cristo. Há necessidade de que a fraternidade seja descoberta, amada, experimentada, anunciada e testemunhada.
Só acolhendo a bênção e o amor dado por Deus nos permitiremos acolher e viver plenamente o dom da fraternidade e da paz. Neste início de Ano, como os pastores de Belém, deixemo-nos deslumbrar, espantar e alegrar com a presença do Menino reconhecendo nele o Deus connosco. Reconheçamos aquilo que Deus fez por nós e demos graças. Como Maria aprendamos a meditar e a pôr junto ao coração todas as coisas, que nos surpreendem ou inquietam, escutando no silêncio de quem acredita e ama. No regaço da Mãe que nos dá o Príncipe da Paz encontremos a força e o sentido da nossa vida.