Por: Padre Carlos Aquino | effata_37@hotmail.com

Ainda nos invadem as sombras das guerras. Fomos assaltados por uma profunda crise política. Parece hipotecada a credibilidade das Instituições democráticas, sociais e religiosas. Um pântano de inquietação e de insatisfação invade o nosso espírito. Neste mês de novembro em que celebramos a vida no seu mistério de fecundidade e de fragilidade assoma-nos a escuridão parecendo vencer a luminosidade da vida. É urgente acordar a esperança. Em linguagem cristã, o homem é uma criatura de esperança, isto é, um ser de desejo, que anseia por uma plenitude de vida, que não se apoia em nenhum fim visível.

Na verdade, só quando não desejamos as coisas deste mundo por si mesmas, frágeis e caducas, passamos a conseguir vê-las tal como elas são, a sua bondade e verdade. E só assim nos libertamos delas. E elas passam a servir-nos no seu lugar justo. A esperança despoja-nos de todas as coisas. E isto constitui, na verdade, o âmago da crise da esperança. Não desejamos viver libertos das coisas.

Cultivamos necessidades sôfregas de possuirmos mais. Somos mais consumidores que consumadores. Mas se esperar é um árduo debruçar-se de cada indivíduo e da própria humanidade para um bem maior ainda não alcançado, um cristão sabe que só pela Palavra da Verdade que se fez carne na Pessoa de Jesus, o Cristo, o alcançará.

Por isso mesmo, ele sabe que o seu futuro absoluto, isto é, o seu futuro livre da armadilha da morte, é um futuro em Cristo, um futuro iluminado pela Palavra daquele que é o Vivo. O crente cristão sabe que só Deus pode preencher os seus desejos. Ele é a Esperança.

Como bem o referiu o Santo de Hipona, S. Agostinho: “Tu fizeste-nos para Ti, Senhor, e o nosso coração está inquieto enquanto não repousa em Ti”. A esperança do cristão é a espera confiante dos bens prometidos por Deus, fonte da vida. Por isso a esperança é uma das três virtudes teologais, juntamente com a Fé e com o Amor.

A esperança é uma virtude porque se dirige para valores que não são apenas terrenos nem materiais, mas para o bem supremo que é a plena e definitiva comunhão com Deus em Jesus Cristo, que é plena depois de realizada em nós a verdade da passagem, da nossa Páscoa, isto é, da recriação da vida para além da morte.

A esperança é uma virtude porque nos faz desejar de modo permanente e estável essa vida nova e permite viver já neste mundo com um coração novo transformado pela Palavra de Cristo, lâmpada para os nossos pés e luz dos nossos caminhos tantas vezes escuros e timbrados de pó e de fragilidade.

A esperança é uma virtude teologal porque se refere diretamente à nossa relação com Deus: o bem a esperarmos é Deus em pessoa. Esta esperança não é fútil, não engana, não nos desespera. A esperança esvazia as nossas mãos para as colocarmos ao serviço, fortalece o coração para semearmos o amor que devemos amar desmesuradamente. É esta esperança que relativiza as nossas metas, as nossas utopias terrenas, as falsas evasões e ilusões de felicidade. É nesta esperança que discernimos o Bem realizando-o porque nos faz reencontrá-lo. Nós esperamos os novos céus e a nova terra, a terra em que Deus nos ama, a terra onde nos espera. Só nesta esperança venceremos as guerras, edificaremos a vida na verdade, na justiça e na paz.