Por: Padre Carlos Aquino | effata_37@hotmail.com

“Mas Ele disse-lhes: Dai-lhes vós de comer” (Lucas 9, 13). Aproximamo-nos do Dia de Todos os Santos e da Comemoração de Todos os fiéis Defuntos. Celebrações para rescendermos a esperança, refundarmos a vida, cuidarmos caminhos sabendo que somos esperados. Mas tem sentido falar-se hoje de Santidade? Contribuirá a santidade para um projeto de vida feliz, que a morte não elimine para sempre?

Como assumimos a morte na nossa vida? Na Sagrada Escritura a palavra hebraica para dizer “Santo” – “qadôsh”, contém em si a ideia de separado e de puro, destinado ao serviço de Deus. Javé é por excelência o Santo, o “separado” porque sai de si mesmo, não da criação, mas sai de si por amor, para ir ao encontro. No Livro do Levítico alarga-se o seu horizonte no chamado “Código da Santidade” e Deus torna-se então modelo e critério para a santidade do homem. Os Santos não são uma exígua casta de eleitos, mas uma multidão inumerável de pessoas felizes por viverem próximos de Deus, na sua luz, na grande família dos amigos de Deus, no seu amor. Esta é a vocação, o chamamento de todos nós, sermos felizes em Deus, como Jesus e com Ele.

A Santidade exige um esforço constante, mas é possível para todos porque, mais do que uma obra do homem, é sobretudo um dom de Deus! Os Santos são os que têm as mãos inocentes e o coração puro, os que aprenderam a não invocar o Nome de Deus em vão. Eles não são orgulhosos, autossuficientes; não constroem pela horizontalidade medíocre; não esperam armar ciladas aos outros que tratam por irmãos; não recorrem aos deuses falsários de pés de barro que prometem a custo preço a felicidade e a vida.

Os santos são os que encontram a sua felicidade na pobreza, na humildade, na fome e sede de justiça, na misericórdia, na pureza de coração, na promoção da paz, no sofrimento por amor do Reino de Deus. No Dia de Todos-os-Santos, que o recente Halloween procura empobrecer pela cultura e medo da morte como momento destruidor da vida, ainda é feliz tradição as crianças saírem à rua e juntarem-se em pequenos bandos para pedir o Pão por Deus de porta em porta.

O peditório do Pão por Deus está associado também a uma memorável tradição marcada pela fé de oferenda aos defuntos. Este hábito ganhou força um ano após o grande terramoto de 1755 que destruiu completamente parte da capital e que aconteceu justamente no dia 1 de novembro. Nessa época, a fome e a miséria sentiam-se pela cidade de Lisboa e reforçou a necessidade de partilha de alimentos com os mais necessitados. Em 1756, as pessoas percorriam assim as ruas, batendo às portas e pedindo qualquer esmola, mesmo que fosse apenas pão. Dado o desespero, as pessoas pediam “Pão, por Deus”. Em troca muitos pedintes recebiam pão, bolos, vinho e outros alimentos para honrar os seus mortos e pedir pela sua alma. Ao pensar na riqueza desta tradição, acordei em mim estas palavras de Daniel Faria: “Nunca conheci terreno mais fértil do que as mãos juntas, festa maior do que as mãos afastadas, prodígio maior do que as mãos impostas”.