Por: Padre Carlos Aquino | effata_37@hotmail.com

“Fazei coisas belas, mas sobretudo tornai as vossas vidas lugares de beleza” (Bento XVI).

Reavivo estas apelativas e transparentes palavras do Papa Bento XVI extraídas do seu Discurso no Encontro com o mundo da Cultura, realizado no Centro Cultural de Belém em Lisboa a 12 de maio de 2010 quando da sua visita a Portugal.

Faço-o para homenagear com justiça e com profunda gratidão, que o tempo há de reconhecer, a simplicidade humilde de um génio, o Magno Pastor da Igreja e eminente Teólogo, o “humilde trabalhador da vinha do Senhor”, o “fiel amigo do esposo”, que há poucos dias nos deixou adormecendo na Luz e na Paz. Também no desejo que as mesmas possam constituir, hoje, fecundo alimento e alicerce para a edificação da nossa vida nos inícios deste Ano que desponta e queremos prenhe de esperança.

Fazer coisas belas, constitui, na verdade, um imenso desafio e também uma missão prioritária na cultura atual, onde campeia tanto desnorte e relativismo e tanto desequilíbrio radicado na profundidade do coração do homem.

Um desafio para este mundo, ainda imerso na escuridão das violências, das guerras e das injustiças. Fazer coisas belas mantendo sempre desperta a busca da verdade e consequentemente de Deus, o desejo dele, tatuado no coração, porque é irremovível a sua presença. Fazer coisas belas tornando a vida um dom, fazendo reluzir em cada palavra e em cada gesto o infinito.

Assumindo a vida, sentindo que a mesma, sendo dom, vale a pena e tem sentido e horizonte. Fazer coisas belas com a visão dos profetas, a paciência dos camponeses, a resiliência dos pescadores. Trilhando as vias da liberdade, da justiça e da solidariedade. Mas sobretudo tornar as nossas vidas lugares de beleza, nunca emudecendo o espanto pelo esplendor de cada amanhecer e o rescender das coisas chamadas à existência.

Reaprendendo a verdade do inteiro, do uno, da fraternidade, da gratidão, da generosidade, da ternura e do amor. Tornar a vida um lugar de beleza habitando as coisas, contemplando-as, escutando, aprofundando.

Tornar a vida um lugar de beleza consumando mais do que consumindo, reconstruindo pela ousadia e coragem da fé, na radical abertura de coração, num profundo ato de confiança, mesmo que não raras vezes isso nos possa imolar em sacrifício. Tornar a vida um lugar de beleza construindo jardins, edificando pontes, cultivando com sabedoria, recomeçando no amor. Recomecemos humildemente sabendo que somos e nos reencontramos sempre como caminheiros. Caminhamos para tornar a nossa vida mais humana, mais plena, mais divina. O caminho conduz-nos a esse feliz encontro com a fonte donde vimos, possibilitando que assim a nossa vida se torne mais bela e boa. Recomecemos feridos e iluminados pela beleza!