Por: Padre Carlos Aquino | effata_37@hotmail.com

“Não é o muito saber que enche e satisfaz a alma, mas o sentir e saborear as coisas internamente” (Santo Inácio de Loyola)

Este pensamento que agora revisito fala-me de fundamentos para fazer crescer a vida. Uma luz no meio de tanta opacidade de alicerces e de tanta verborreia do ego que sussurra dentro de nós o negativo que estendemos também aos outros. Porque há um sonho do qual jamais podemos desistir: ser felizes. Hoje, abundam os doutores, os mestres e os licenciados, mas decresce assustadoramente a sabedoria, o discernimento e a ética. Vivemos no império da burocracia e dos papéis, das regras e dos jogos, mas definha-se a verdade, que se tornou relativa e ideológica e a beleza do saber.

Afirma-se a urgência de uma profunda mudança, mas murmura-se diante da surpresa do novo e do inesperado. Procuram-se muitas coisas, mas deseja-se pouco o saborear a realidade das mesmas e o seu sentido. Vivemos imersos em vertiginosas correrias, opinamos sobre tudo, não raras vezes, com demagogia e tantas outras sem reflexão, conhecimento e sincero aprofundamento. Estamos cheios de tantas ocupações e desafios, mas vazios e incompletos. Muito sensíveis à imoralidade dos outros, mas lascivos em relação à mesma quando avaliados nas próprias opções e atitudes. Apuradíssimos na classificação da indignidade, mas frágeis no combate da mesma.

Juízes severos do mau carácter e do mal que corrompe, mas adormecidos na própria consciência sempre justificando o dito e o feito. Palatinos da liberdade e da verdade e tantas vezes algozes das mesmas. Alicerçados por tradição e cultura nas leis e nas doutrinas, mas com vidas tão pouco tocadas e transformadas pelo que lemos e guardamos. Falta o sentir e o saborear internamente as coisas. Falta fazer crescer o que na verdade é fundamental. E tudo o que não cresce, decresce. O que desejamos, na verdade, saber? Para que perguntas fundamentais desejamos encontrar respostas? Que realidades nos ocupam e quais aquelas a que dedicamos atenção e tempo? Que desejamos fazer crescer no mais profundo de nós? A vida solicita-nos que a escutemos com outra atenção e a contemplemos com outro olhar. Precisamos encontrar sentido, vislumbrar o horizonte onde desejamos chegar.

Porque importa também valorizar uma geografia interior e segui-la, com persistência e empenho, vencer a acédia pela qual assumimos com desolação e inércia o ritmo delirante da existência. Precisamos esperar uma nova vida que realmente nos pertença e onde possamos encontrar a verdade a que somos chamados. Precisamos de aceitar e de mudar. É urgente maravilharmo-nos com a fragilidade e a plenitude, a realidade e a imprevisibilidade que nos fere. Degustar o sabor das coisas mais simples, valorizarmos o como se vê, a sabedoria de uma conversa, o tesouro de assuntos partilhados e enriquecidos, a força de um abraço, o silêncio de um livro, a aprendizagem e o crescimento de um caminho trilhado em companhia de alguém. Na verdade, na conquista do sonho de sermos felizes, todos bem precisamos de recrescer. Redescobrir sentido, sentindo e saboreando as coisas internamente.