“O amor não mata a morte, a morte não mata o amor. No fundo, entendem-se muito bem. Cada um deles explica o outro” (Jules Michelet)
Mergulhados nesse misterioso sobressalto divino da Ressurreição ao “terceiro dia” do Filho de Deus, os cristãos cantam neste tempo: Aleluia! Mas, nos devemos mesmo alegrar? Não surge a alegria quase como um cinismo, como troça num mundo ainda cheio de sofrimento, de injustiças e de morte? Estaremos verdadeiramente salvos, isto é, somos nós possuidores da vida em plenitude? Que significado tem se acreditar num ressuscitado frente a uma multidão de mortos ao longo da história mundial e ainda agora, no hoje da História? Não será a Páscoa cristã uma realidade ultrapassada, uma palavra sem sentido, uma falsa esperança? Na Páscoa aprendemos que a vida é passagem, vence o amor sobre o ódio, a vida sobre a morte; passam a Cruz, o sofrimento, mas não morre Deus nem se perde para sempre o Homem e o amor que a tudo dá sentido. Agora há justiça para o mundo porque Deus existe e tem poder para destruir o mal.
Garante a vida sem fim. Só o seu amor é garante de justiça plena e fecunda. Foi em Jesus Cristo, que Ele nos libertou de toda a espécie de escravidão, do poder do mal e das amarras da morte. Para os cristãos a Páscoa é como uma porta aberta que nos conduz para fora dum mundo frágil e injusto e o desafio a seguir o clarão duma Luz. Como chegar até ela? “Procurai as coisas do alto” diz São Paulo, o amor que permanece e dá vida! Só quem se dá no amor se encontra e gera verdadeira vida. Salvamos os homens na medida em que não os deixamos sós, mas como Jesus lhes damos amor e Deus em cada palavra e atitude.
O amor verdadeiro, cura e salva, o amor que nos faz caminhar até ao fim sem medos e reservas, amor cumprido na fidelidade a Deus e no serviço próximo e humilde aos irmãos. Na manhã de cada Domingo de Páscoa, corre sempre jubiloso pelo mundo inteiro um anúncio de esperança e de vida. Páscoa é aceitar o dom da vida nova que Jesus nos oferece com a sua paixão, morte e ressurreição. Páscoa é Misericórdia e perdão. Quem se abre ao perdão misericordioso e transforma a vida no dinamismo do amor de Deus torna-se testemunha e mensageiro deste perdão e amor e assim converte o mundo à paz e ao bem. Páscoa é receber o dom da esperança fecunda que não ilude nem falseia mesmo no meio das grandes dificuldades e desencontros da vida. Muitos dos nossos contemporâneos passam pela vida preocupados com tantas outras coisas: preocupam-se com o lucro, com o sucesso, a imagem e a carreira, com a honra e com o prazer. Vivem imersos na mundanidade.
Muitos encontram-se de mãos vazias e coração inquieto e insatisfeito, porque tiveram tempo para tudo, exceto para realizar a ternura, a bondade, o amor, encontrar o sentido para a vida. São vidas que não se configuram à de Jesus, que passou, curando os doentes, enxugando lágrimas, perdoando os pecados, dando de comer aos famintos, infundindo esperança nos corações desesperados, testemunhando a Palavra que dá vida, no amor, doando-se até ao fim. Seja a Páscoa a conversão verdadeira da nossa vida ao bem e a Cristo, o Senhor. Possamos com alegria e liberdade, sem vergonha, afirmar: nele redivivo!