Por: Padre Carlos Aquino | effata_37@hotmail.com

“A justiça é amor, o amor é justiça. Nada mais há a aprender” (Alberto Manguel)

Na sua Viagem Apostólica ao Congo no passado mês de fevereiro, o Papa Francisco partilhou no encontro com os jovens cinco ingredientes para a construção do futuro, associados aos dedos de uma mão. Deus colocou nas nossas mãos o dom da vida, o futuro da sociedade e do mundo, muito embora possam parecer pequenas e frágeis, vazias e inaptas para tão grande missão. As nossas mãos são únicas e irrepetíveis, permitindo gestos de destruição ou de construção. Servem para matar ou dar a vida, reter ou partilhar, odiar ou amar, que importa restaurar para uma justiça plenificada pelo amor que dê fecundo sentido e profundidade à vida.

Isto se deve aprender. As mãos fechadas tornam-se um punho, tantas vezes expressão de agressividade e violência, de vazio e fragilidade, mas quando abertas e colocadas ao serviço se tornam expressão da generosidade e da solidariedade. Esta é, na verdade, uma opção fundamental que nos implica, sabendo que será das nossas mãos que nascerá o amanhã. Das nossas mãos chegará a justiça, a paz, o amor ou a injustiça, a divisão, o mal. Ao polegar, o dedo mais próximo do coração, Francisco propõe a que corresponda a oração, que faz pulsar a vida. A escuta do Outro, porque sozinhos nada conseguimos realizar. Seremos como árvores desenraizadas.

Só na escuta crescemos e nos desenvolvemos em profundidade, dando fruto e transformando o ar poluído que respiramos em oxigénio vivificante. Quem ora amadurece interiormente, sabe erguer o olhar para o alto e compreender que foi feito para o Céu. Quem reza vence o medo e assume o próprio futuro. Com o indicador, Francisco propõe a Comunidade, que nos afasta da solidão e isolamento. Juntos, como companheiros, devemos caminhar e encontrar força e sentido, a felicidade. É preciso e urgente guardarmo-nos da tentação do juízo sobre os outros, do regionalismo, dos preconceitos. Acreditar que o mundo virtual seduz, mas não sacia com verdade a nossa fome de sentido e felicidade. Precisamos valorizar os rostos, a ternura, os abraços, a proximidade, a família, os amigos. O dedo central que se alonga um pouco mais além dos outros deve ser a honestidade. Viver retamente. Não nos enredarmos pelos caminhos da corrupção.

Assim se vence a vida pagã e idólatra, dos que se adoram só a si mesmos servindo-se dos outros. Com a honestidade não manipulamos, vencemos o mal, a espiral da violência e da instabilidade, não acreditando nas tramoias obscuras do dinheiro e dos interesses mesquinhos e egoístas. Com o anelar, dedo em que se coloca a aliança nupcial, Francisco propõe o caminho do perdão. Sendo o dedo mais frágil, é o que mais necessidade tem de ser levantado, restaurado. Lembra-nos que as grandes metas da vida, a começar pelo amor, passam por fragilidades, cansaços e dificuldades. Devem ser vividas com paciência e confiança.

A força que o sustenta é esta capacidade para se saber recomeçar, não nos resignarmos com o acontecido. Convida a não cedermos aos ódios, vinganças e rancores. O dedo mindinho, pequeno propõe o serviço. Quem se dá ao outro morre para si mesmo, torna-se pequenino para que o outro cresça. Assim como uma pequena semente lançada à terra parece desaparecer, mas virá a dar fruto. O serviço é o poder que transforma o mundo. Assim daremos ao coração e à vida pontos firmes, direções estáveis para um futuro diferente e luminoso.