Por: Padre Carlos Aquino | effata_37@hotmail.com

“Terás, pois, de conceder ao teu servo um coração cheio de entendimento para governar o teu povo, para discernir entre o bem e o mal” (! Reis 3, 9). Iniciou-se o tempo escolar. Tempo próprio para se cultivar a escuta e o entendimento, a sabedoria que oriente no discernimento e seja fermento e sal para uma vida boa e feliz. Em cada ano letivo que inicia, também nós, alunos e docentes, reaprendemos a começar.

Porque é no interior das nossas vidas que ligamos começos e recomeços, reencontros e redescobertas, a aventura do saber e a aventura maior, a do ser. A Escola pode e deve ser um verdadeiro laboratório para esta sabedoria. Uma sabedoria que seja uma aproximação e um encontro com a realidade, uma verdade a iluminar, argamassa e alicerce para a existência e lhe dê completude. Uma sabedoria que seja um novo olhar atento e alargado ou uma profética narrativa maturada no silêncio e na escuta.

Uma sabedoria que seja luz na tarefa educativa, que juntamente à capacidade de pensar a vida de modo mais integral, ao desenvolvimento de hábitos solidários e também a uma profundidade espiritual dê maior qualidade ao sentido da vida, da sua dimensão moral, espiritual e social e às relações humanas. Uma sabedoria que não se fabrique com buscas impacientes na internet, nem seja um alheamento da verdade e um somatório de informações cuja veracidade não está garantida.

Como é bela e grande a missão assumida pelos educadores e pelos educandos em cada ano ao serviço desta sabedoria! Porque cada vez mais, precisamos libertar e desipotecar o sentido primeiro da Escola como tempo saudável de prazeroso “lazer”, não circunscrito ao ritmo do trabalho e dos afazeres, terreno propício a cultivar o corpo e o espírito, um viveiro para a transformação mais que a formação, um laboratório para se semear sabedoria com a consciência que educar não consiste sobretudo na transmissão de conteúdos úteis, mas na transformação do ser humano pelos hábitos e pelas virtudes intelectuais, morais e espirituais.

Transmitindo e cultivando a sabedoria, equipar a pessoa para saber viver uma vida integra. Perante as grandes mudanças da sociedade atual onde predomina a globalização da economia e tudo parece ganhar valor pela lei do mercado, perante o grande avanço tecnológico que criou fossos de indiferença e individualismo, vidas suspensas pelo virtual, diante os graves problemas ambientais longe da sua resolução pela apatia e desinteresse, a par de uma cultura hedonista e relativista, torna-se determinante, cada vez mais, que os educadores e educandos fomentem juntos os valores da verdade e fraternidade pela cultura do diálogo.

A educação deve permitir e favorecer que cada ser humano possa ser artífice do seu destino e assegurar um pleno desenvolvimento e preparação competente para a cidadania e qualificação do trabalho como meio de realização. Por isso neste início de ano escolar convido a trazer ao coração estas palavras: “Dá, Senhor, ao nosso estudo o prazer e o sentido das coisas verdadeiras. Ensina-nos a aprofundar aquilo que já sabemos e a reconhecer, com humildade, o que ainda ignoramos. Livra-nos do estudo sem motivação nem horizonte, do decorar mecânico que exclui o entendimento. Livra-nos da dispersão que nos despeja longe da própria vida. Que aprender seja uma aventura apaixonada em busca da verdade, não apenas do triunfo. Concede-nos o bom humor que nos disponha a viver o estudo com alegria, porque um simples sorriso é tão sábio como um difícil conceito” (José Tolentino Mendonça).