Po: Padre Carlos Aquino | effata_37@hotmail.com
FAZ-TE AO LARGO
 
Há palavras indeléveis, que ficam gravadas na nossa memória porque têm a transparência da luz, a profundidade dos mares e a espessura do ouro. No enquadramento das celebrações do Vigésimo Quinto Aniversário da Ordenação Episcopal do Senhor D. António Cavaco Carrilho, Bispo Emérito do Funchal e um dos filhos mais ilustres de Loulé, avivo algumas dessas palavras que constituem para quem as escuta, saboreia e acolhe, uma boa, feliz e alegre notícia: 
Faz-te ao largo! Estas palavras foram escolhidas como lema episcopal do Senhor D. António quando depois de ter sido chamado para ser Bispo Auxiliar do Porto considerou que exprimiam profundamente o grande chamamento do Senhor a si dirigido para uma nova missão. São um programa de vida, um imperativo a quem é chamado a uma vida cristã, um desafio intemporal para o serviço do Evangelho. 
 
Exprimem o pedido de Jesus aos seus discípulos proferido junto ao lago de Tiberíades, depois de uma pesca infrutífera. Um convite dirigido então a Pedro, o pescador e ao longo dos tempos a muitos outros, chamados a uma missão particular dentro da Igreja e ao serviço do Evangelho para a esperança do mundo. 
 
Estas palavras convidam-nos a não nos refugiarmos na resignação pessimista e demissória perante as dificuldades e fragilidades da própria vida. A sabermos assumir que não há ganhos sem perdas. Também nos habitam ausências, silêncios, vulnerabilidades, mas o Mestre convida-nos a saber lidar com o que se perde, os próprios fracassos e o mal.  Estas palavras são um apelo a abrir a vida toda e o coração à esperança, a sairmos de nós mesmos ancorados nessa Palavra que iluminando, fortalece e transforma. 
 
A sabermos acreditar potenciando os sonhos e edificando com ousadia e coragem o futuro. A sair de nós mesmos descentrando-nos do nosso egoísmo e ambições superficiais sabendo que a vida também é constituída pelo inacabado. A não nos instalarmos na dor, nas feridas, no abraço das noites vazias e dos mares revoltos. São apelo a não ficarmos atolados nas areias sem saída, reféns da amargura e da infelicidade. A aprender a ser pescadores de homens como pediu o Senhor, tarefa que os bispos assumem de modo singular tornando-se dons e modelos de todo o discípulo, que serve e dá a vida como o Bom Pastor.
 
Estas palavras ditas na frescura de um lago, convidam ao amor e à solicitude para com todos, a saber repartir um pão que alimente a fome do mundo, a dessedentar com a água-viva todos os que buscam um sentido para a própria vida. A lançar as redes duma presença e proximidade que acolha e compreenda com novo olhar e ternura a dor dos outros, as suas fomes e desejos, os seus cansaços e misérias. A construir fraternidade perante o sofrimento e a solidão dos que permanecem longe, nas periferias. 
 
Tudo isto D. António cumpriu entregando toda a sua vida com um coração simples, humilde e generoso mesmo quando muitas e diferentes tempestades fizeram perigar a viagem. De olhar terno e sorriso amoroso com compaixão e misericórdia a todos e com todos procurou partilhar e realizar a profundidade destas palavras ditas também a si. Façamo-nos também nós com coragem e prontidão ao largo, neste tempo que nos desafia e ainda espera pelos frutos de nova pesca e pela Luz.