A apresentação pública do restauro das imagens da Sé de Silves foi feita pela paróquia no passado dia 21 de outubro, para assinalar o Dia Nacional dos Bens Culturais da Igreja que se celebrou no dia 18 do mês passado.

As esculturas intervencionadas no final de 2012 no Laboratório de Pintura e Escultura do Instituto Politécnico de Tomar fazem parte de um acervo de imaginária descoberto nos sótãos da casa paroquial e no centro da catequese. Luís Santos, da equipa paroquial dos Bens Culturais da Igreja, lembrou que até final dos anos 40 do século passado, o interior da Sé de Silves era revestido a talha dourada e a azulejo. “Na altura entendeu-se que tudo o que eram elementos não-góticos deveriam ser retirados”, lamentou, acrescentando que “muitas peças foram guardadas”. “Ficaram escondidas durante séculos a fio. Pensamos que todas elas tenham sido da Sé de Silves. Temos certeza nalgumas, mas dúvidas noutras”, acrescentou.

Aquele responsável lembrou que a recuperação das imagens teve início por causa do protocolo estabelecido em 2010 no âmbito do projeto “Rota das Catedrais” que incluía a criação de um pequeno núcleo museológico. “Como havia uma contrapartida da paróquia, começámos a tratar de certos elementos para o museu. Este foi o primeiro lote e até agora o único”, explicou.

A recuperação das cinco imagens, umas medievais e outras do século XV/XVI, custou 4.000 euros e foi financiada por mecenas, concretamente o Crédito Agrícola de Silves e outra entidade bancária que preferiu manter o anonimato tal como um conhecido empresário.

Luís Santos explicou que a intervenção faz parte de um trabalho de recuperação do património paroquial, iniciado em 2007 que incluiu também o acervo arquivístico, e que tem uma dupla vertente: “dar a conhecer este património existente” e “dar corpo à comunidade, restituir a memória que ela tinha, recuperando um pouco a identidade desta paróquia”. “A paróquia de Silves, embora não tenha um grande património mobiliário, tem algum património a que importa dar atenção”, advertiu.

A paróquia explicou ainda a escolha das cinco imagens recuperadas – São Sebastião, São Vicente/Santo Estêvão (não havendo certeza de qual se trata), Deus-Pai (também conhecida como Pai Eterno), São Francisco e Nossa Senhora (que se pensa ser do Ó) –, sublinhando critérios como a raridade das mesmas ou o conhecimento da existência de significativa devoção que nalguns casos chegou a incluir igrejas dedicadas ao santo em causa, entretanto desaparecidas.

O trabalho de recuperação das peças foi realizado por Ana Lídia Mascarenhas, então aluna de mestrado do Instituto Politécnico de Tomar e licenciada em Conservação e Restauro, que acrescentou ainda que a escolha também se prendeu com o facto de serem imagens com danos e patologias muito idênticos por terem estado sujeitas às mesmas humidades e temperaturas.

A restauradora explicou que foi feita “intervenção conservativa” e não “intervenção de conservação e restauro”. Segundo aquela técnica a primeira não inclui a reconstrução das peças e visa a sua exposição em museu, enquanto que a segunda é pensada mais do ponto de vista estético para devolver a imagem ao culto. “O que é importante é estabilizar e conservar os materiais que chegaram até nós, fazer com que as gerações seguintes possam admirar as esculturas como elas nos chegaram”, afirmou, garantindo que o maior problema das imagens era ao nível da camada policroma. Depois de exames que incluíram análises, fotografias e radiografias, os trabalhos compreenderam a fixação das camadas policromas, a desoxidação e/ou remoção de elementos metálicos, a limpeza, a consolidação dos suportes e estabilização estrutural.

O responsável do Setor da Pastoral da Cultura, Património e dos Bens Culturais da Diocese do Algarve congratulou-se com o “grande esforço” da equipa da paróquia de Silves “para que este património seja valorizado, recuperado e restaurado”. “Quando se criou este Dia dos Bens Culturais da Igreja teve-se como intenção a grande valorização deste património, como caminho evangelizador, portador de cultura mas também portador de evangelho”, afirmou o padre Carlos de Aquino.

“Podemos olhar para a arte cristã e para os espaços dos templos cristãos com um olhar contemplativo e perceber que aquilo que foi construído ao longo dos séculos, e que é património de fé e de cultura também, é um enorme elemento evangelizador e portador, ainda hoje, da linguagem religiosa, uma linguagem muito humana de encontro connosco mesmos e de encontro com o sagrado e o divino”, sustentou, lamentando que, às vezes, o património seja “fechado, escondido” e “não valorizado no sentido de ser usufruído, contemplado”.

O padre Carlos de Aquino considerou haver ainda um “imenso trabalho a fazer da evangelização a partir da arte cristã” e lamentou que o projeto da “Rota das Catedrais” no sul do país não se tenha desenvolvido conforme previsto “por motivos políticos”.

Para além destas imagens, que já estiveram expostas ao público, a paróquia de Silves tem muitas outras a precisar de restauro, mas os responsáveis da paróquia adiantam que o próximo passo na recuperação do património paroquial não será esse por ser preciso assegurar primeiro o financiamento para os trabalhos. Luís Santos conta que o próximo trabalho será a recuperação dos azulejos da capela do Santíssimo Sacramento que se pensava terem sido dissipados, mas que foram encontrados.

.

Por Folha do Domingo
Fotos Samuel Mendonça