Os dois clínicos, que integravam a Unidade de Cuidados Intensivos Neonatais e Pediátricos do Hospital de Faro, terão alegado como motivo para a sua saída a degradação das condições de trabalho no Serviço Nacional de Saúde.
Esta saída de dois especialistas em neonatologia ocorreu dias depois do Centro Hospitalar do Algarve ter admitido a hipótese de encerrar a maternidade do Hospital de Portimão devido à falta de pediatras e obstetras.
A degradação das condições de trabalho no Serviço Nacional de Saúde é uma realidade, denunciada pelos profissionais de saúde. Uma realidade indissociável de uma política, levada a cabo pelo atual e anteriores governos, de desvalorização social e profissional dos profissionais de saúde, de degradação da oferta pública de cuidados de saúde, de fusão e concentração de unidades hospitalares, de encerramento de serviços e valências, de racionamento de meios, de crescente dificuldade no acesso aos medicamentos, de alargamento e aumento brutal das taxas moderadoras e de diminuição dos apoios ao transporte de doentes não urgentes.
O ataque ao Serviço Nacional de Saúde constitui uma opção política, ideológica e programática de sucessivos governos do PS, PSD e CDS – e não uma opção meramente conjuntural ditada pela crise – de criação de um sistema de saúde a duas velocidades: um serviço público desqualificado e degradado para os mais pobres, centrado na prestação de um conjunto mínimo de cuidados de saúde, e um outro, centrado nos seguros privados de saúde e na prestação de cuidados por unidades de saúde privadas, para os cidadãos mais favorecidos.
A criação, há um ano, do Centro Hospitalar do Algarve, desferiu mais um golpe nos cuidados de saúde públicos da região algarvia. Em particular, a mobilidade forçada de médicos entre hospitais que distam dezenas de quilómetros entre si (66 km entre Faro e Portimão, 86 km entre Faro e Lagos) constitui um fator que influencia muito negativamente a capacidade de atração de novos médicos para os hospitais da região e de fixação dos atuais profissionais.
Assim, o Grupo Parlamentar do PCP questionou o Ministério da Saúde (pergunta em anexo) sobre a saída de dois médicos pediatras, especialistas em neonatologia, do Hospital de Faro para ingressar numa unidade de neonatologia de um estabelecimento de saúde privado da região algarvia; sobre as consequências para o funcionamento da Unidade de Cuidados Intensivos Neonatais e Pediátricos do Hospital de Faro resultante da perda destes dois clínicos; sobre o número de pediatras especialistas em neonatologia que estão agora ao serviço no Centro Hospitalar do Algarve; sobre as medidas que o Governo irá adotar para garantir o normal funcionamento da Unidade de Cuidados Intensivos Neonatais e Pediátricos do Hospital de Faro; se o Governo reconhece que a criação, há um ano, do Centro Hospitalar do Algarve contribuiu para diminuir significativamente a capacidade de fixação de médicos nos hospitais da região e de atração de novos profissionais; se, perante a evidência dos factos, o Governo tenciona pôr termo à desastrosa opção de fundir os hospitais algarvios num único centro hospitalar; e ainda sobre as medidas concretas que o Governo irá adotar para fixar médicos na região algarvia e atrair novos profissionais.
Por Grupo Parlamentar do PCP