Por Mendes Bota, antigo Presidente da Câmara Municipal de Loulé

Existem, espalhados pelo mundo, largos milhares de clubes de Carnaval, associações de Carnaval e de “maluquinhos do Carnaval”. Só a título de exemplo, o German Carnival Museum de Kitzingen é a organização chapéu de 5.200 destas entidades. E, quem sabe, a criação de uma Confraria do Carnaval de Loulé sob os auspícios do Museu seria uma ideia mobilizadora.

O Museu do Carnaval de Loulé poderia assumir-se como uma instituição que conserva, exibe, difunde e valoriza os objetos, as pessoas e as tradições que caracterizam a festa maior do Município, sendo uma porta de entrada para a verdadeira alma louletana, à descoberta das suas cores, materiais, formas, odores, sabores e tons musicais.

Não deveria ser uma casa fechada sobre si própria, mas promover visitas guiadas de grupos escolares e de visitantes diversos, bem como organizar work-shops educativos, culturais, recreativos e promocionais por todo o país e até no estrangeiro, nos quais o teatro e a música expressariam o papel relevante que têm na magia do Carnaval. Deveria ir ao encontro das populações das freguesias ao longo do ano, estimulando-as a participar ativamente no evento, como era de tradição, ouvindo testemunhos de histórias antigas, reforçando a coesão social e o sentido de participação comunitária e empreendedora vinculada à dança, à música, à oferta gastronómica, ao turismo cultural, ao artesanato, entre outros sectores.

As visitas escolares assumiriam uma importância especial, constituindo uma verdadeira Aventura do Carnaval, uma experiência inesquecível para as crianças ao longo de toda a sua vida, transmitida de viva-voz nos estabelecimentos educativos, nas famílias, nos círculos de amizade e participação desportiva, cultural e social.

Na sua amplitude total, o Museu do Carnaval tem potencial para cobrir as esferas local, regional, nacional e internacional, dirigindo-se a quatro grupos-alvo: os turistas, a comunidade carnavalesca (grupos e apaixonados), especialistas e investigadores, e o público restante (visitantes e famílias).

O Museu do Carnaval de Loulé poderia exprimir um novo conceito de infraestrutura cultural, com um modelo de gestão ágil orientado para o serviço público, um projeto estruturante e catalisador do potencial turístico do Algarve, sem esquecer os aspetos comerciais através da produção e distribuição de materiais, give-aways, brinquedos, máscaras, confetti, papelinhos, doces, chocolates, brochuras, revistas, fotos, posters, material videográfico, etc, com a marca “Carnaval de Loulé”, a qual deveria, aliás, ser desde já registada com a titularidade do Município, com logo próprio, acompanhado da consagração do evento como Património Imaterial.

Sem qualquer outro propósito que não seja a valorização da nossa terra, deixo aqui à consideração de todos e das forças vivas louletanas este conjunto de ideias e reflexões à volta da possível criação do Museu do Carnaval de Loulé, para que as façam assumir por quem de direito, ou seja, o poder autárquico. Certo é que tudo tem um princípio, carece de estudo e preparação, e que esta proposta pode e deve ser entendida numa perspetiva de médio e longo prazo, de forma faseada, de acordo com as vontades políticas e as disponibilidades orçamentais de quem nos governa. É verdade que o ruído que vem de Leste, não é seguramente de bombinhas de Carnaval. Mas a vida não pode nem deve parar.

 

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