As orações de Maria Emília, peregrina de 67 anos, que trocou a Nazaré por Fátima para participar na peregrinação de segunda e terça-feira ao santuário, não são apenas pela família por causa da qual se “agarrou” à Virgem.

O diagnóstico médico à filha augurava um futuro muito complicado; do mar, onde o marido pescava, saíam, não poucas vezes, ondas de susto.

“Agarrei-me a Nossa Senhora. Sou muito crente e venho agradecer-lhe, em maio e outubro”, afirmou Maria Emília, na sua tenda montada às portas do santuário, confessando, no entanto, ter perdido a fé nos políticos, mas, que, ainda assim, depositou o seu voto no dia 04.

À agência Lusa, a peregrina afirmou que “só pede um futuro melhor para os netos”, porque, no seu caso, tem que se contentar com a “poucochinha reforma de 54 contos”, que procura complementar com “o trabalho na máquina de costura”.

“Nossa Senhora ilumina toda a gente”, considera Maria Emília, notando, contudo, que “cabe aos políticos cumprirem as promessas e o que se propuseram fazer e, já agora, entenderem-se”.

“Já se deviam ter entendido há muito mais tempo. Todos queremos que as coisas sejam melhores, depois de tanto aperto e privações”, considera, por seu lado, Rui Castro, de 50 anos, de Aveiro.

Acompanhado da mulher e das filhas, que acompanharam um grupo de peregrinos, Rui Castro lamentou a falta de “sentido de Estado e dedicação às causas” que mancha a classe política, considerando ser uma “obrigação” neste momento haver daquela “mais trabalho e menos conversa”.

Fátima Ribeiro, de 58 anos, do Algarve, defende que “Nossa Senhora, Jesus Cristo e todos os santinhos deviam interceder pelos políticos, para que eles se entendam”.

“Eu tenho fé de que eles se vão entender e que isto vai mudar”, acrescentou.

De Esposende, distrito de Braga, Sónia Ferreira, de 28 anos, apenas pede um “país de oportunidades” para que, como tantos amigos que viu partir, a sua família não tenha de daqui sair.

“Precisamos de estabilidade, porque somos nós que temos mais a perder”, declarou a cabeleireira, que, após vários anos desempregada, arriscou e abriu um salão em plena crise e agora pede que “continue a haver trabalho”.

A última grande celebração do ano ao maior templo mariano do país começa às 18:30 de hoje, na Capelinha das Aparições, com o acolhimento pelo bispo de Leiria-Fátima, António Marto, e saudação pelo presidente das celebrações, cardeal Giovanni Battista Re.

O momento mais aguardado é a procissão das velas, seguida de missa, culminando a peregrinação na terça-feira, com a principal celebração, que inclui bênção dos doentes e procissão do adeus.

 

Por Lusa