Por F. Inez

Não será preciso ter-se uma intelectualidade e uma imaginação muito vastas para afirmar, sem receio de se ficar muito longe da realidade, que obteríamos milhares de “olhares” muito e surpreendentemente diversos uns dos outros, se formulássemos esta pergunta … Que País é este!? … a cada um dos nossos concidadãos … os que habitam este pequenino retângulo no extremo ocidental do Continente Europeu, nas margens da imensa vastidão dos mares do Oceano Atlântico … mas também os que lá fora, roídos pela saudade, anseiam e sonham com a sua Terra Natal, com os mil e um cozinhados do bacalhau salgado e com a bela sardinha assada!

Nem sempre as nossas opiniões poderão coincidir, já que até, sem darmos por isso, valorizamos excessivamente os nossos interesses … esquecendo frequentemente os dos nossos semelhantes. Pioneiro dos Descobrimentos e senhor dum vasto Império que se estendeu pelos cinco Continentes, Portugal chegou a ser a potência económica, política e militar mais importante de todo o mundo!

Saudosismo? … Não! … Factos históricos indesmentíveis! O colonialismo, que hoje repudiamos, era na altura a política universal dos povos expansionistas. Abolida a Monarquia, implantada em 1910 a 1ª República … de má memória … seguiram-se-lhe uma ditadura militar e mais tarde o chamado Estado Novo, em 1933, um regime autoritário, a que os ventos da História e a Revolução do Cravos vieram pôr fim, bem como à guerra colonial, gerando a independência da Colónias e a instauração da democracia …

A integração na Comunidade Europeia e na Zona Euro vieram um pouco mais tarde. Ultrapassada a dolorosa instabilidade inicial … em particular o chamado PREC … de má memória … aos poucos fomo-nos familiarizando e praticando a nossa … por vezes dolorosa …  aprendizagem com a chamada prática democrática, na expectativa de que finalmente tivéssemos chegado ao “Paraíso”!

Foi sem dúvida uma lufada de ar fresco a nova vivência democrática … e com a ajuda dos fundos europeus o País conheceu uma interessante fase de progresso generalizado e uma notável melhoria das condições de vida ….

Passada que foi a chamada fase romântica do novo regime democrático … eis que, sobretudo na última dezena e meia de anos, começámos a mergulhar numa fase de desilusão que parece agigantar-se a cada dia que passa.

Aquilo a que chamamos regime democrático transfigura-se a cada dia que passa numa farsa que se agiganta despudoradamente e aos poucos sem qualquer disfarce.

Hoje, e à medida que se sucedem os escândalos de corrupção já ninguém tem dúvidas de que uma grande parte da classe política   não se preocupa em servir o País, mas em servir-se a si própria.

É inevitável que comecemos a interrogarmo-nos …  

Que País é este onde ao fim de um ano inteiro de justas lutas e reivindicações de muito anos dos professores … que mal ganham pr’a comer, tudo continue exatamente na mesma sem que se lhes tivesse sido prestada a mais pequena melhoria?

Que País é este…  onde o Serviço Nacional de Saúde foi simultaneamente uma grande esperança e hoje é cada vez mais uma enorme desilusão, porque os governos se recusam a introduzir-lhe as reformas estruturais que o reabilitem e permitam a retenção dos seus profissionais, deixando a população, sobretudo a de menores recursos, cada vez mais desprotegida … mas onde, incompreensivelmente, continuamos a assistir ao progressivo encerramento de serviços por inação do governo … e os doentes a esperar muitos meses e até vários anos por simples consultas, cirurgias e outros exames e tratamentos?

Que País é este onde 1,7 milhões de pessoas não têm médico de família.?

Que País é este onde 1 em cada 10 pessoas não tem dinheiro para comprar na farmácia os medicamentos para se tratarem?

Que País é este onde um professor catedrático leva para casa, ao fim do mês, um pouco mais que 2 mil euros?

Que País é este onde os jovens não ganham o suficiente para ter a sua casa, constituir família e ter filhos?

Que País é este onde mais de 80% dos reformados auferem pensões abaixo dos 665 euros e mais de 50% as suas pensões oscilam entre os 443 e os 278 euros?

Que País é este onde a corrupção aumenta escandalosamente e a Justiça não funciona?

Que País é este onde … como alguém já disse … a Democracia e o pudor democrático perderam definitivamente a sua virgindade? … a que eu acrescento … e que deixaram de respeitar a memória dos nossos ancestrais!