Juros no crédito habitação voltaram a subir em outubro para 1,328%. E as prestações fixaram-se em 279 euros, aponta o INE.

Em Portugal, a grande maioria dos contratos de crédito habitação são de taxa variável (mais de 90%). Isto quer dizer que as famílias veem os juros a aumentar sempre que há revisões das taxas Euribor, a que estejam indexados. Os dados mais recentes do Instituto Nacional de Estatística (INE) espelham esta realidade: a taxa de juro implícita no conjunto dos empréstimos habitação fixou-se em 1,328% em outubro, o valor mais elevado desde janeiro de 2015. E a subida dos juros nos últimos meses tem levado a um “aumento significativo” do valor médio da prestação da casa, que se situou nos 279 euros em outubro. É preciso recuar ao início de 2012 para encontrar uma prestação da casa tão elevada.

O que os dados do INE também mostram é que a taxa de juro implícita no crédito habitação em Portugal deu um salto em outubro face ao mês anterior: passando de 1,144% em setembro para 1,328% em outubro, uma evolução de 18,4 pontos base (p.b.).

“Para o destino de financiamento aquisição de habitação, o mais relevante no conjunto do crédito habitação, a taxa de juro implícita para o total dos contratos subiu para 1,342% (+18,2 p.b. face a setembro)”, analisa o INE no boletim publicado esta quarta-feira, dia 23 de novembro.

  • E como ficou a taxa de juro nos créditos habitação assinados nos últimos 3 meses (quando a Euribor já estava em alta)?

Segundo os dados do INE, nos contratos celebrados nos últimos três meses, a taxa de juro subiu de 1,775% em setembro para 2,061% em outubro. E para destino de financiamento de aquisição de habitação, a taxa de juro nos contratos assinados nos últimos 3 meses aumentou ainda mais: 27,9 p.b. face ao mês anterior, fixando-se em 2,054%.

Prestação da casa atinge valor mais elevado em 10 anos

Considerando a totalidade dos contratos, o valor médio da prestação da casa subiu 7 euros, para 279 euros. Este é mesmo o valor mais elevado desde fevereiro de 2012, quando a prestação atingiu, também, os 279 euros. Note-se que nessa data, a Euribor também se situava entre 1% e 2% para todos os prazos, estando a recuperar do choque da crise financeira que elevou as taxas de referência para 5%.

Da prestação da casa média observada outubro (279 euros):

  • 69 euros (25%) correspondem a pagamento de juros
  • 210 euros (75%) a capital amortizado.

De notar que o peso dos juros na prestação da casa tem vindo a subir, até porque em outubro do ano passado o juro representava apenas 16% do valor médio da prestação (nessa altura a Euribor ainda estava negativa).

Nos contratos celebrados nos últimos 3 meses, o valor médio da prestação da casa subiu ainda mais (18 euros), atingindo os 489 euros em outubro. Este elevado valor também é explicado pela subida da Euribor e, por conseguinte, dos juros, que elevam as prestações dos empréstimos habitação contratados recentemente.

“Em outubro, o capital médio em dívida para a totalidade dos contratos subiu 424 euros face ao mês anterior, fixando-se em 61.513 euros. Para os contratos celebrados nos últimos 3 meses, o montante médio em dívida foi 130 628 euros, menos 244 euros que em setembro”, refere ainda o instituto.

 

Porque é que os juros e as prestações da casa estão a subir a pique?

“Desde o início de 2022, têm-se verificado aumentos sucessivos das taxas de referência do mercado monetário interbancário com impacto nas taxas de juro implícitas do crédito à habitação e no valor das prestações a pagar pelas famílias”, começa por explicar o INE, fazendo referência à subida dos juros diretores pelo BCE, que afetam as famílias com créditos habitação de taxa variável e indexados à Euribor.

Em resultado do panorama macroeconómico, “a subida das taxas de juro nos últimos meses tem levado ao aumento significativo do valor médio da prestação do crédito à habitação”, conclui o gabinete nacional de estatística. E tem-se verificado um “aumento significativo do valor médio da prestação do crédito à habitação” com taxas de variação homóloga superiores às da inflação, aponta o INE. Em outubro de 2022, a prestação média para a finalidade aquisição de habitação foi 18,7% superior à do mês homólogo, enquanto a inflação registou uma taxa de variação de 10,1%.

  • E quanto é que pagam as famílias de prestação da casa?

Segundo os dados do INE, mais de 75% de contratos de crédito habitação em vigor em outubro de 2022, tinham uma prestação entre 100 e 400 euros mensais e apenas 5% tinham uma prestação superior a 630 euros/mês. A prestação da casa média foi de 305 euros e a mediana de 257 euros para a totalidade dos contratos de crédito habitação ativos em outubro de 2022.

“Os contratos celebrados em 2022 apresentam uma prestação média (423 euros) e mediana (365 euros) 38,7% e 42,0% superiores às da totalidade dos contratos, mantendo uma distribuição assimétrica, com 95% dos contratos a apresentarem uma prestação inferior a 940 euros”, destaca ainda no documento.

De notar ainda que os contratos de crédito habitação celebrados desde o início deste ano apresentam valores contratados médios (131.000 euros) e medianos (117.000 euros) superiores à da totalidade dos contratos (95.000 euros e 81.000 euros, respetivamente). Cerca de 90% dos contratos celebrados em 2022 apresentam um montante contratado entre 40.000 e 280.000 euros, contrastando com a totalidade dos contratos, que estão compreendidos na mesma proporção entre os 30.000 e os 200.000 euros.

A verdade é que o valor contratado nos financiamentos para a compra de casa tem vindo a aumentar ao longo dos anos. “À exceção do período entre 2007 e 2014, é notório um aumento constante do valor contratado mediano, passando de pouco mais de 10.000 euros no início dos anos 80 para mais de 100.000 euros desde 2020”, destaca o INE explicando ainda que “o forte crescimento observado para o período mais recente é indissociável do próprio aumento do preço da habitação”.

Por: Idealista