A valorização de produtos algarvios como o figo côtea, a ovelha churra ou a cavala, através de atividades de investigação que potenciem a inovação, é uma das estratégias da iniciativa Revitalgarve para reforçar o sistema de alimentação territorial regional.

Em declarações à Lusa, Jorge Pereira, professor da Universidade do Algarve (UAlg), que coordena o projeto, adiantou que o Revitalgarve tem um caráter “inovador”, visando promover o consumo local de produtos de uma Rede de Produtores Locais do Algarve, constituída, numa primeira fase, por produtores já certificados.

“Este projeto é financiado pelo PRR [Plano de Recuperação e Resiliência] e o plano de ação divide-se em três linhas, que acabam por ser três subprojetos: a primeira linha é a do Conhecimento, depois temos uma outra que é dos Territórios Rurais Inteligentes, e uma terceira que é a da Diversificação Económica”, precisou.

O coordenador do projeto frisou que, na linha de ação do Conhecimento, procura-se “valorizar através de atividades de investigação de aumento de inovação produtos alimentares da região do Algarve”, como o figo côtea, a ovelha churra, espécie em declínio, ou a cavala.

O figo côtea é um representativo do pomar tradicional de sequeiro, tem uma “grande valência para ser desidratado” e, no âmbito do projeto, vai procurar-se potenciar as suas qualidades com o estudo e comparação da secagem que é feita tradicionalmente em esteiras ao sol com a que pode ser efetuada num secador com temperatura e ambiente controlados.

O projeto vai também valorizar a carne da raça ovina churra algarvia, que está em “franco declínio”, com “menos de 3.500 animais” e cerca de 40 produtores, mediante o desenvolvimento de um “enchido curado, seco”, juntamente com a Escola de Hotelaria e Turismo de Vila Real de Santo António.

Trata-se de um preparado “pré-confeccionado e ultracongelado” e “a ideia é este produto chegar à restauração coletiva, nomeadamente às cantinas escolares”, observou, acrescentando que o projeto vai também focar-se numa espécie de pescado da costa algarvia, a cavala, disponibilizando filetes embalados e pré-preparados para restauração coletiva.

Na linha de ação relativa aos Territórios Rurais Inteligentes pretende criar e valorizar um sistema alimentar local com produtos do Algarve, integrando a produção agroalimentar, promovendo cadeias curtas de abastecimento e valorizando a dieta alimentar com base na Dieta Mediterrânea, que é um “padrão alimentar saudável e bastante sustentável”, sustentou.

A implementação da rede de produtores é considerada “uma oportunidade para potenciar e alargar áreas produtivas” que estejam “baseadas em modos de produção mais sustentáveis” e permitam fornecer “alimentos mais seguros e de qualidade” à população em geral, mas sobretudo à restauração coletiva (cantinas), argumentou.

A última linha de ação é a Diversificação Económica e procura “atuar ao nível da organização dos mercados locais de produtores”, para onde é escoada uma “parte importante da produção local e familiar”, disse ainda Jorge Pereira, sublinhando que há 100 mercados na região onde estes produtos podem ser escoados.

O projeto Revitalgarve, que começou em julho de 2023, deverá estar concluído em setembro de 2025, contando com um financiamento de mais de 900.000 euros do PRR.

O projeto resulta de uma candidatura que envolve 12 parceiros, entre eles a UAlg, que coordena, o Centro de Competências para a Dieta Mediterrânica, representado pela Direção-Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural (DGADR), ou a Comunidade Intermunicipal do Algarve (AMAL).

Entre os parceiros estão também associações de proprietários florestais (Cumeadas do Baixo Guadiana), duas pequenas e médias empresas, a Escola de Hotelaria e Turismo de Vila Real de Santo António, a Direção Regional da Agricultura do Algarve, a Direção-Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV) e as associações de desenvolvimento Vicentina, In Loco e Terras do Baixo Guadiana.

 

Lusa