O central Raúl Silva, decisivo na primeira vitória do «lanterna-vermelha» Farense na I Liga de futebol, destacou à Lusa o mérito do «feeling» do treinador Tozé Marreco e alertou que os algarvios não podem parar por aqui.

“O golo foi mérito do ‘mister’ [Tozé Marreco]. Durante a semana, trabalhámos muitas jogadas para fazer golo. Faltavam três minutos e ele teve o ‘feeling’ de me pôr na frente. Por ironia do destino, uma pitada de sorte ou competência do ‘mister’, conseguimos sair com o resultado positivo”, afirmou o jogador, de 34 anos, em declarações à agência Lusa.

Aos 87 minutos da receção de domingo ao Estoril Praia, da oitava ronda do campeonato, Ricardo Velho pediu assistência médica e Tozé Marreco reuniu os jogadores de campo em volta de um quadro tático, promovendo Raúl Silva a ponta de lança improvisado, o que deu frutos com o solitário golo da vitória, aos 90+6 minutos.

Apesar de ter marcado o tento do importante triunfo, colocando fim ao jejum dos algarvios esta época – somavam seis derrotas e um empate –, o central rejeitou vestir a pele de herói.

“Se há uma coisa que tenho de realçar é que decisivo e importante para a nossa primeira vitória foram a crença, a luta e a união, de toda a equipa e dos adeptos. Somente assim foi possível sairmos com esse resultado desse jogo”, sublinhou.

Ainda o médio colombiano Velásquez não tinha feito a assistência, na sequência de contra-ataque conduzido pela direita por Pastor, já o central tinha planeado tudo na sua cabeça: “Já tinha o corpo enquadrado, em frente à baliza, e quando ela veio já sabia o que tinha de fazer, que era simplesmente tirar [do alcance] do guarda-redes. E tive felicidade”.

O central comemorou de forma mais contida “em respeito” ao Estoril Praia, que já representou, mas após o apito final não conseguiu evitar as lágrimas, que considerou “um choro de desabafo”.

“Estamos há três, quatro meses a lutar diariamente e as coisas não estavam a acontecer. Foi um choro de alívio, porque não era só eu, todo o grupo merecia passar por um momento assim”, sustentou.

Para Raúl Silva, de resto, não foi um momento inédito, como o próprio recordou à Lusa: “No Paysandu, em 2013, no último minuto de jogo, vou para a área e faço um golo de cabeça que nos dá o título [paraense]. E no Braga, na qualificação para a Liga Europa contra uma equipa da Suécia [AIK Estocolmo, em 2017], faço outro golo ao minuto 120. Este é mais um capítulo que vou guardar na minha memória com muito carinho”.

A vitória deu confiança ao Farense, 18.º e último classificado da I Liga com quatro pontos, a um de Estrela da Amadora e Nacional, mas o defesa argumentou que este é apenas o primeiro passo.

“O jogo com o AVS [0-0], por não termos perdido, por termos mantido a baliza a zero, já nos passou confiança para este jogo. Depois desta vitória, a confiança aumenta e era uma coisa de que precisávamos neste momento. Mas não pode parar por aqui: temos de trabalhar cada vez mais, a dobrar, para termos mais momentos destes num futuro próximo”, referiu.

Raúl Silva justificou o início negativo de época do Farense com as muitas mudanças na pré-epoca, embora ressalvando que, com José Mota, treinador que saiu após a sexta jornada, com seis derrotas averbadas, a equipa já mostrava “atitude, perseverança e resiliência”.

“O ‘mister’ Tozé Marreco deu continuidade a essa agressividade, a esse espírito, com algumas ‘nuances’ táticas, que conseguimos absorver rapidamente. E com resultados, é mais fácil trabalhar. Temos um longo caminho pela frente, de muito trabalho, e espero que juntos, ‘mister’, equipa técnica, jogadores, equipa e adeptos, com muita luta, possamos fazer um bom resto de campeonato, mantendo o Farense onde merece estar”, concluiu o central.

 

Lusa