Save the date Portimão museum June 24
António Saint Silvestre é um Molière contemporâneo, que nos faz sorrir e ao mesmo tempo chorar, com os seus « filhos » irrequietos. Com um sentido profundo da fragilidade da existência, da atualidade social e política, é um perspicaz observador do nosso Mundo, no grande teatro da vida.
O artista vai descrevendo um planeta frágil, tecendo historias e criando as suas personagens, tecendo fio a fio,os anjos ou demónios e mais toda uma série de crianças atormentadas pelos pecados do mundo, denunciando as turpitudes do homem.
As suas esculturas e instalações têm uma visão aguda da nossa vivência quotidiana, actualidade que aparece, mais do que transparece, por meio de detalhes ínfimos, Saint Silvestre vai dando vida a esses pormenores, a esta leitura entre linhas, que às vezes é filtrada pela censura.
Como Molière, o artista tem um sentido crítico-sarcástico através de uma tragico-comédia dos factos profundos da nossa sociedade, o que o 7° poder não pode exprimir, Saint Silvestre interpreta e vai mais além, revelando na intimidade dos seus heróis, os malabarismos perversos da nossa sociedade.
Personagens de uma peça de teatro, alimentados pela imaginação do artista que vai dando forma, dando vida aquilo que nos não conseguimos absorver numa leitura directa dos acontecimentos actuais. Silvestre vai aos poucos povoando o palco de seres inocentes, criando a copia do mundo, exprimindo-o como um repórter atento, de maneira subtil e sarcástica.
Saint Silvestre consegue dar vida a cada personagem, escrever e produzir uma peça de teatro bem resolvida e divertida, basta analisar os títulos de cada obra para o compreender. Tudo faz sentido de maneira que possamos entender bem o drama que esta desenrolando, uma tragédia doce-amarga de um mundo sem regras e sem conserto, mascarada de cores garridas para perturbar os
incautos e afligir os atentos.
Com uma vivência e percurso atípico: nasceu na Africa colonialista, cresceu em Portugal sob a ditadura de Salazar, passou parte da juventude em uma guerra inutil em Angola, percorreu o mundo e começou a criar artisticamente, na patria da arte, Paris.
O artista tem nas mãos mundos diversos : o artístico, o de criador, também o de colecionador, o de curador e critico. Marci Gaymu, Portimao Junho 2023.