A região do Algarve, reconhecida internacionalmente como um destino turístico (principalmente na época de verão), confronta-se com um desafio contínuo e crescente: a seca.
 Ao longo das últimas décadas, a escassez hídrica tem exercido um impacto  negativo, resultando em consequências econômicas, sociais e ambientais.  
 
A seca é um fenômeno natural que se caracteriza pela escassez prolongada de  precipitação pluviométrica numa região. Trata-se de um evento climático que
impacta a  disponibilidade de águas, tanto em corpos de águas superficiais, como rios e lagos,  quanto em reservatórios subterrâneos, como aquíferos.  
 
De acordo com o Índice de Palmer, também designado por PDSI, as diferentes  categorias de seca são determinadas com base numa série de valores que representam  o cálculo médio do balanço hídrico, tendo em consideração dados como a temperatura  média mensal, a precipitação total média e o conteúdo de água no solo. Estas categorias  são: seca fraca ou alerta de seca (-0,50 a -1,99), seca moderada (-2,00 a -2,99), seca  severa (-3,00 a -3,99) e seca extrema (-4,00 ou inferior). 
 
Conforme o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), em maio de 2023,  verificou-se que a região do Algarve estava caracterizada por uma redução da seca  severa e um aumento da seca extrema. Esta classificação indica uma tendência crescente  em direção a uma das categorias mais acentuadas de seca.  
 
A ausência prolongada de precipitação tem-se revelado como uma preocupação  persistente, especialmente considerando a média anual de precipitação no Algarve, que  apresenta valores em torno de 500 mm, em comparação com a média nacional de  aproximadamente 900 mm.  
 
As reservas hídricas do Algarve encontram-se consideravelmente abaixo do seu  nível médio. No mês de junho do ano de 2023, foram registadas as seguintes  percentagens de volume ú
 
A seca no Algarve constitui uma realidade inquietante, exigindo a implementação  imediata de medidas com o intuito de preservar os recursos hídricos e assegurar um  futuro próspero para esta região.  
 
Uma das medidas adotadas em relação à seca na região do Algarve foi proposta  pelo Governo por meio da construção de uma unidade de dessalinização localizada no  concelho de Albufeira.  
 
O presidente da Comunidade Intermunicipal do Algarve (AMAL), António Pina,  destacou publicamente que a referida dessalinizadora terá a capacidade de suprir até  um terço das necessidades de água no âmbito ciclo urbano.  
 
Este projeto, cujo custo inicialmente estimado era de 40 milhões de euros, está  previsto para alcançar aproximadamente 50 milhões de euros, atualmente. A  generalidade do financiamento será proveniente do Programa de Recuperação e 
Resiliência (PRR) e espera-se que a unidade de dessalinização seja capaz de produzir até  24 hectómetros cúbicos de água.  
 
Agora para os menos entendidos na matéria...  
 
Uma unidade de dessalinização é um sistema que utiliza processos para eliminar  o sal e outras substâncias indesejáveis da água proveniente do mar ou de outras fontes  com salinidade, tornando-a adequada para o consumo humano, bem como para a utilização na agricultura e indústria.  
 
Existem diversos métodos de dessalinização, no entanto, a técnica prevalente é  a osmose reversa. A osmose reversa é um método que se baseia no uso de membranas  semipermeáveis, as quais permitem a passagem seletiva de moléculas de água,  impedindo a passagem de outras partículas. Como já referido anteriormente, este  processo envolve a aplicação de pressão à água salgada gerando uma diferenciação de  concentração de sal entre os dois lados da membrana. Como resultado, o sal e outras  impurezas são redos no lado da água salgada, enquanto a água purificada atravessa a  membrana.  
 
E o que acontece à água que não é purificada?  
 
A água residual salgada resultante do processo de osmose reversa é geralmente  descartada de maneira “controlada”, sendo libertada em corpos de água ou sistemas de  esgotos, com uma concentração maior de sais, podendo ter efeitos negativos na  biodiversidade.  
 
Perante a crescente aproximação da região do Algarve à categoria de seca  extrema, torna-se necessário considerar algumas opções visando a obtenção de água  sendo a construção da dessalinizadora uma delas. No entanto, é essencial refletir sobre  os diversos efeitos que este projeto trará como os custos elevados associados à sua  construção, mas também à manutenção, o impacto ambiental, o potencial risco de  contaminação química, a dependência de recursos hídricos marinhos e o impacto  potencial sobre a vida marinha.  
 
No Algarve, existem outras opções que podem ser empreendidas em relação ao  cenário de escassez hídrica que a região atravessa, das quais destaco a importância da  promoção de campanhas de sensibilização para a poupança de água, a implementação  de programas de reutilização de águas pluviais para fins agrícolas, o incentivo da  utilização de equipamentos eficientes no consumo de água, a gestão eficiente de  recursos hídricos em atividades exigentes no consumo de água, o investimento em  técnicas de sistema de irrigação eficientes na agricultura e nos campos de golfe e a  promoção da reflorestação e da conservação de aquíferos (atentando ao aquífero  Querença-Silves).  
 
Ademais, o Comité das Regiões Europeu divulgou um documento in
 
A implementação de uma estratégia intermunicipal no combate à seca é de  fundamental importância, uma vez que a escassez hídrica não reconhece fronteiras  administrativas. A colaboração entre municípios possibilita a partilha de recursos,  conhecimentos e experiências, fortalecendo a capacidade coletiva de enfrentar os  desafios impostos pela seca e de garantir o acesso de todos os concelhos à água. A  importância de uma estratégia intermunicipal deverá assentar numa preocupação por  parte dos municípios de gerir a condução da água proveniente da unidade de  dessalinização, garantindo, deste modo, o acesso equitativo a este bem.  
 
Considerando o custo-benefício relativo à implementação de uma  dessalinizadora, torna-se evidente a importância de adotar abordagens que promovam  a conscientização da população. Embora a construção de uma dessalinizadora possa  representar um investimento significativo, o impacto positivo da sensibilização pode ser  substancial e sustentável a longo prazo.  
 
Diante desta realidade, torna-se evidente que a educação desempenhe um papel  fundamental para a mudança de comportamento, garantindo a preservação dos  recursos hídricos da região do Algarve. A Universidade do Algarve possui uma  responsabilidade acrescida nesta temática, tanto na educação para a sensibilização  como na formação de profissionais qualificados para atuar no processo de dessalinização a ser construído na região.  
 
Através do conhecimento e da sensibilização, é possível cultivar uma nova  mentalidade voltada para a utilização responsável de água, adotando práticas  sustentáveis e desenvolvendo soluções inovadoras para garantir um futuro para a região.  Este caminho a percorrer é pavimentado pelo poder da educação sendo essencial  capacitarmos as gerações presentes e vindouras para a valorização da água.