Sob o mote da diversidade cultural, entre 21 e 29 de maio Portimão vive uma semana dedicada à interculturalidade, através de um programa de atividades que pretende promover a partilha de experiências entre as mais de seis dezenas de comunidades estrangeiras a residir e a trabalhar no concelho.

A iniciativa, que sofreu um interregno devido à pandemia da Covid-19, visa sensibilizar a comunidade para a importância de uma sociedade mais justa, igualitária e intercultural e insere-se no âmbito da agenda de atividades do CLAIM Portimão – Centro Local de Apoio e Integração de Migrantes, que aposta numa política de inclusão para ‘bem’ acolher quem procura esta cidade tolerante e solidária.

A programação arranca a 21 de maio, data em que se celebra o Dia Internacional da Diversidade Cultural, assinalado pela ICC – Intercultural Cities com uma campanha intitulada "Feel Diversity-revive your senses" ( World Day for Cultural Diversity for Dialogue and Development 2021 (coe.int) ), que dá a conhecer a diversidade cultural das várias cidades participantes na campanha. Portimão integra este mapa de cidades interculturais como um município que se assume cada vez mais como detentor de uma população eclética e diversificada, que coabita os seus 182,06 Km2, preconizando uma política de inclusão e desenvolvendo projetos e/ou atividades para os migrantes de nacionalidades diferentes que aqui vivem e trabalham: 21 May 2021: Portimao (Portugal) celebrates diversity (coe.int)

Recorde-se que em 2016 Portimão integrou a Rede Portuguesa de Cidades Interculturais, atualmente composta por 13 município, fazendo parte do grupo de 141 municípios em todo o mundo, empenhados em criar cidades mais inclusivas, que promovem ativamente a diversidade local e o acolhimento das famílias recém-chegadas, assegurando que todas as pessoas se sintam incluídas.

Nos dias 26 e 28 de maio decorrerá a ação de sensibilização “As Cores da Cidade Cinzenta”, inspirada no livro de Rita Garcia Fernandes, com ilustrações de André Filipe. A iniciativa tem lugar às 16h00 e será dinamizada pela equipa do projeto (Re)Viver no meu Bairro e pelo Centro Comunitário da Cruz da Parteira, onde se realiza.

Após a leitura da obra, as crianças do centro comunitário vão ser motivadas para a descoberta de valores fundamentais de conduta e vida em sociedade. Para o efeito, usarão lápis com tons cor de pele e colorirão as páginas do livro previamente assinaladas, participando desta forma na sua conclusão.

Arte urbana promove respeito pela diversidade de culturas

De entre as ações previstas para celebrar a diversidade cultural, merece destaque a revitalização artística de um muro, com cerca de 120 metros de comprimento, existente no Bairro Cruz da Parteira, onde coexistem diversas culturas e que tem merecido um importante trabalho de intervenção social de sensibilização por parte da autarquia no sentido de aceitação da cultura do outro.

O propósito dessa intervenção é promover a igualdade e eliminar formas de discriminação, através da partilha, da valorização e do respeito pela diversidade das culturas existentes no bairro, combatendo preconceitos e descriminações étnicas e promovendo uma convivência saudável e respeitadora entre todos.

A intervenção deve estar concluída no dia 29 de maio e surge de um protocolo estabelecido entre o Município de Portimão e o Laboratório de Atividades Criativas, Associação Cultural, que se propõe integrar artistas locais conceituados, como são os casos de Tars8two e APC, que tentarão adequar esta expressão de arte urbana ao património imaterial da cidade.

Com o recurso a várias técnicas, os dois artistas enfatizarão elementos icónicos de Portimão sob a temática da interculturalidade, aliando conceitos como a entreajuda, a empatia, as relações de vizinhança, a família e a diversidade cultural.

A medida insere-se na política de revitalização do parque habitacional do Município de Portimão, ao valorizar o espaço arquitetónico e ao contribuir para esbater estigmas e preconceitos habitualmente associados às minorias étnicas residentes nos bairros socias, de modo a minimizar os efeitos da exclusão social.

Exposições sobre a interculturalidade

O encerramento da Semana Intercultural está marcado precisamente para 29 de maio, com a celebração do Dia Municipal do Imigrante e da Diversidade Cultural, sendo inaugurada uma exposição fotográfica no exterior do Museu de Portimão, intitulada ”Memórias da Ilha de Moçambique”, a partir de imagens cedidas por Mário Horta.

Inscrita como Património Mundial da Humanidade pela UNESCO, devido à sua arquitetura única, que agrega influências árabes, portuguesas e indianas, a Ilha de Moçambique é exemplo de vibrante espaço intercultural.

Trata-se de uma promoção conjunta entre o Município de Portimão, a AllMozambi - Associação Cultural e Recreativa de Moçambicanos e Amigos de Moçambicanos, o CLAIM e o Grupo de Amigos do Museu de Portimão. A mostra ficará patente até 29 de junho próximo.

Por estes dias, e no âmbito do seu 13º aniversário, o Museu de Portimão também exibe a mostra “Somos todas as Cores”, que reúne uma importante parte do conjunto das obras do escultor, ceramista e pintor alemão Hein Semke (1899 -1995), resultantes da valiosa doação de sua esposa, Teresa Balté. tendo o casal passado longas temporadas na Praia da Rocha, a partir de 1969.

A exposição, patente até 21 de novembro, conta com um texto introdutório alusivo à interculturalidade e destaca o longo percurso criativo de Hein Semke, que desde 1932 trouxe à vida artística portuguesa um inovador e importante contributo expressionista, de forte impacto visual, trabalhando em diversas áreas, com realce para a escultura, pintura, desenho, colagem, gravura e cerâmica.

Associativismo dinâmico

Promovida pelo Município de Portimão, através do CLAIM, a Semana Intercultural de 2021 conta com a colaboração da associação All Mozambi e da CAPELA - Centro de Apoio a População Emigrante de Leste e Amigos, as duas entidades do género atualmente com atividade regular no concelho.

Criada em 2012, a All Mozambi tem como objeto promover as relações de convívio social, nomeadamente de cariz cultural e recreativo entre os sócios, fomentando a cultura e as tradições de Moçambique em Portimão e no espaço comunitário, com apoio, defesa e representação dos interesses dos residentes moçambicanos e seus descendentes no concelho, em prol da sua qualidade de vida.

Com mais de meia centena de associados, promove ações necessárias à integração no meio laboral dos moçambicanos e o intercâmbio com outras associações e, devido à situação pandémica, a associação tem trabalhado com a Câmara Municipal de Portimão e a Cáritas da Igreja Matriz de Portimão, no sentido de ajudar os compatriotas que manifestem necessidades.

Por sua vez, a CAPELA foi fundada em 25 de fevereiro de 2005 e desenvolve vários projetos e iniciativas no âmbito da igualdade de oportunidade dos imigrantes, sobretudo em termos de sensibilização, informação e intervenção política no âmbito das questões da imigração ao nível local, de modo a facilitar o processo de integração dos seus 1760 associados, de 32 nacionalidades, o que faz dela uma das maiores associações na região algarvia.

Para além de promover os direitos cívicos e religiosos e realizar diversas atividades culturais, em colaboração com as embaixadas da Rússia, Ucrânia e Moldávia, a CAPELA mantém a sua dinâmica mesmo durante a pandemia de covid-19, de acordo com as necessidades dos seus associados, apoiados por um gabinete que continuou a funcionar ao longo deste período e atendeu uma média mensal entre os 550 e os 600 imigrantes em 2020.

Pelo contributo da associação na integração dos imigrantes na comunidade portimonense e pelo seu trabalho social e humanitário, a Câmara de Portimão atribuiu à CAPELA a Medalha de Mérito Municipal.

CLAIM Portimão apoia mais de três mil migrantes

Espaço de acolhimento, informação e apoio aos migrantes que aqui encontram soluções para ultrapassar a adaptação a uma nova vida, o CLAIM registou no ano transato 2576 atendimentos, enquanto que só entre janeiro e março deste ano já foram efetuados 619 atendimentos.

Desde a sua inauguração há cinco anos, o CLAIM de Portimão foi procurado especialmente por migrantes oriundos do Brasil, Índia, Bangladesh, Argélia, Guiné-Bissau e Cabo Verde, num total de 33 nacionalidades, A maioria dos atendimentos esteve relacionada com questões de legalização, renovações de residência, reagrupamento familiar, nacionalidade, educação (registo de menores) e saúde (atribuição do número de utente).

Segundo os mais recentes dados disponíveis no SEF, relativos a 2019, no município de Portimão havia 10.198 migrantes com autorização de residência, oriundos em grande maioria do Brasil, seguindo-se Reino Unido, Roménia, Ucrânia, Itália, França e Índia.