O ciclista britânico Thomas Pidcock (INEOS) impôs-se hoje ao português João Almeida (UAE Emirates) na chegada à meta da quarta etapa da Volta ao Algarve, assumindo a liderança da geral individual.

Pidcock, campeão olímpico de ‘cross country’, bateu o português por um segundo ao concluir os 177,9 quilómetros entre Albufeira e o Alto do Malhão em 4:28.39 horas, deixando-o no segundo lugar, com o belga Ilan Van Wilder (Soudal-QuickStep) em terceiro, a cinco segundos.

Na geral, o britânico de 23 anos lidera com cinco segundos de vantagem sobre Van Wilder, segundo, e sete segundos para João Almeida.

A 49.ª edição da Volta ao Algarve termina no domingo, com o contrarrelógio individual decisivo na Lagoa, com 24,4 quilómetros cronometrados para encerrar a corrida.

COMENTÁRIO: O Malhão foi conquistado por Pidcock, mas geral será por contrarrelogista

João Almeida tentou, mas foi Thomas Pidcock quem se impôs no alto do Malhão, numa etapa dececionante, que decretou que, muito provavelmente, será um contrarrelogista a vencer a 49.ª Volta ao Algarve em bicicleta.

Quem hoje assistiu à quarta etapa da 49.ª ‘Algarvia’ terá dado o seu tempo por perdido, à exceção do derradeiro quilómetro dos 177,9 entre Albufeira e o alto do Malhão, ‘palco’ de todos os ataques entre os homens da geral e da deceção nacional: o português da UAE Emirates acelerou o ritmo a 500 metros do alto, mas foi ultrapassado pelo britânico da INEOS, ‘herdeiro’ da tradição vencedora da sua equipa no ponto mais alto de Loulé.

Depois de ser relegado para o último lugar do pelotão na primeira etapa, por sprint irregular, Pidcock redimiu-se hoje com uma grande exibição, que lhe valeu a vitória na etapa, em 4:28.39 horas, com um segundo de vantagem em relação a João Almeida, e a liderança da geral, diante do belga Ilan van Wilder (Soudal Quick-Step), hoje terceiro na etapa, a cinco segundos.

“Hoje, tratámos de garantir que acertávamos”, assumiu o vigente campeão olímpico de XCO, referindo-se às tentativas falhadas da sua INEOS nas etapas anteriores.

Embora a amarela seja hoje sua, o talentoso britânico, que destronou o dinamarquês Magnus Cort (EF Education-EasyPost), não deverá mantê-la no domingo, uma vez que quer o seu companheiro italiano Filippo Ganna, quer o norueguês Tobias Foss (Jumbo-Visma), dois dos melhores contrarrelogistas do pelotão, estão a pouco mais de 30 segundos, uma diferença perfeitamente recuperável nos 24,2 quilómetros de exercício individual nas ruas de Lagoa.

Exceção feita a Pidcock, Ganna, o antigo bicampeão mundial de contrarrelógio, e Foss, o vigente, foram mesmo os maiores vencedores no Malhão, ao perderem apenas 20 segundos para o vencedor, com Almeida a conseguir, ainda assim, saltar para a terceira posição da geral, a sete segundos do camisola amarela – Van Wilder é segundo, a cinco -, enquanto Rui Costa (Intermarché-Circus-Wanty) ficou definitivamente fora da luta pelo pódio, já que caiu para sexto da geral, a 22 segundos.

Assim que a partida real para a quarta etapa foi dada, saltaram para a frente da corrida Kasper Asgreen (Soudal Quick-Step), o terceiro da edição de 2021, Lewis Askey (Groupama-FDJ), Mathias Vacek (Trek-Segafredo) e o português Afonso Silva (Kelly-Simoldes-UDO), que não haveria de ter pedalada para acompanhar os três homens das equipas WorldTour.

A jogada estratégica da Soudal Quick-Step, que tinha Van Wilder no terceiro lugar da geral, e da Groupama-FDJ, cujo líder Valentin Madouas ocupava o quarto posto, não teve resposta imediata das outras formações candidatas ao triunfo final, cientes de que as dificuldades no caminho e os quilómetros a percorrer acabariam por condenar ao fracasso a iniciativa.

A vantagem dos três rapidamente cresceu, rondando os cinco minutos ao quilómetro 30, mas foi caindo paulatinamente à medida que os fugitivos foram enfrentando as três primeiras contagens de montanha do dia, todas de terceira categoria.

Um excecional trabalho da BORA-hansgrohe, coadjuvada pela EF Education-EasyPost, mas também pela UAE Emirates – os poucos escudeiros de João Almeida deram hoje tudo o que tinham no trabalho em prol do português -, ‘condenou’ a fuga, com Asgreen, que atacou os seus companheiros de jornada na subida para a terceira categoria de Alte, a ser apanhado a 30 quilómetros da meta, quando já tinha assegurado (virtualmente) a vitória final na classificação da montanha.

Mas a Soudal Quick-Step ainda não estava satisfeita: na primeira das duas ascensões ao ponto mais alto de Loulé, Rémi Cavagna atacou e Kobe Goosens, companheiro de Rui Costa na Intermarché-Circus-Wanty, seguiu-o, sem que no grupo do camisola amarela se registassem movimentações – os dois haveriam de ser alcançados pouco depois.

Numa etapa demasiado tática, as equipas dos candidatos à geral preferiram ser cautelosas e levaram a corrida controlada até aos derradeiros 2,6 quilómetros da jornada, momento escolhido por Jai Hindley para aumentar o ritmo, com Pidcock a mostrar-se imediatamente alerta, antes de tentar ele mesmo a sua sorte na companhia de Van Wilder e Oscar Onley (DSM).

Rui Costa assumiu a perseguição ao trio, mas ‘estourou’, quase ao mesmo tempo que Cort ficou definitivamente para trás. Foi então que Almeida deu uma demonstração de garra, conseguindo recolar aos homens da frente e assumindo o ritmo na dianteira, em busca da vitória na etapa e, quem sabe, da amarela, sendo apenas derrotado pelo promissor ciclista da INEOS.

O que o ciclista que fez sonhar os portugueses no Giro2020 conseguiu foi ‘eliminar’ da luta pelo pódio os trepadores da BORA-hansgrohe, Sergio Higuita e Jai Hindley, respetivamente quarto (a 17) e quinto (a 20) da geral, ou o colombiano Daniel Martínez (INEOS), terceiro no ano passado e agora sétimo a 22 segundos.

Almeida, campeão nacional de 'crono' em 2021, parte, assim, para a derradeira etapa como um dos candidatos a ocupar um dos três primeiros lugares da geral, numa luta a quatro com Pidcock, Ganna (nono) e Foss (10.º).

 

Volta ao Algarve: 4.ª etapa – Declarações

Declarações após a quarta etapa da 49.ª edição da Volta ao Algarve em bicicleta, ganha pelo britânico Thomas Pidcock (INEOS), no final de uma ligação de 177,9 quilómetros, entre Albufeira e o alto do Malhão (Loulé):

- Thomas Pidcock, GB, INEOS (vencedor da etapa e líder da geral individual): “É muito bom [ganhar]. Enquanto equipa, fizemos asneira. Ontem [sexta-feira], com o Filippo [Ganna] também podíamos ter vencido a etapa.

 

Na segunda etapa, fizemos um trabalho brilhante e no último quilómetro fizemos asneira. Hoje, tratámos de garantir que acertávamos.

Ataquei, pensando que a meta era no topo como aquando da primeira passagem, mas depois havia uma viragem à esquerda e mais 70 metros [para percorrer]… pensei que alguém me iria apanhar, mas não aconteceu. Nesse tipo de situação, só temos de dar o máximo, independentemente do que esteja a acontecer.

Amanhã [domingo], é um contrarrelógio, não há muito planeamento, apenas temos de ir no limite”.

- João Almeida, Por, UAE Emirates (segundo na etapa e terceiro na geral individual): “[Balanço] muito positivo. Fui ao início da subida muito sufocado, entrei mal posicionado.

Não consegui ajudar o Rui [Costa] na perseguição.

Recuperei fôlego na parte menos plana e, depois, simplesmente dei tudo o que tinha.

Foi muito positivo. Fico triste por ter feito segundo, porque queria ganhar, mas o Pidcock estava mais forte. É mesmo assim.

Correu bem, só faltava ganhar. A minha equipa esteve muito bem o dia todo, e agradeço a todos eles pelo trabalho que fizeram.

[Resultado de hoje] é muito positivo [para o contrarrelógio [de domingo]. Espero que corra bem.

Têm sido dias duros, vamos ver como estou amanhã [domingo]”.

- Magnus Cort, Din, EF Education-EasyPost (líder da classificação por pontos): “Para qualquer ciclista profissional, é bom ganhar e a classificação por pontos também é muito boa. Testemunha o quão bem corri nos últimos dias.

Sonhei manter a camisola [amarela]. Com as boas pernas que tive nos últimos dias, comecei a acreditar, mas este final de hoje nunca iria encaixar nas minhas características, por isso não posso estar muito desapontado”.

- Kasper Asgreen, Din, Soudal Quick-Step (líder da classificação da montanha): “Foi um bónus agradável [a camisola da montanha]. No outro dia, amealhei uns pontos, porque queria fazer a descida de modo a manter o Ilan [van Wilder] a salvo. Sabia que tinha alguns pontos e pensei: ‘já que estou aqui [na fuga] posso fazer isto sem muito esforço”.