André Magrinho, Professor universitário, doutorado em gestão | andre.magrinho54@gmail.com
Avaliar se a Cimeira para a Paz na Ucrânia realizada na Suíça, nos passados dias15 e 16 de junho valeu a pena, é um exercício complexo e depende de vários fatores. Embora a cimeira não tenha alcançado unanimidade em relação à Declaração Final, ela proporcionou um espaço para discussões importantes entre representantes de cerca de 90 países e organizações. A cimeira abordou questões cruciais, como segurança nuclear, liberdade de navegação e segurança alimentar, além da situação na Ucrânia. No entanto, o sucesso real dependerá das ações subsequentes e da capacidade de envolver a Rússia em futuras negociações.
A busca pela paz é um processo contínuo, e a cimeira pode ter estabelecido bases importantes para avanços futuros. Durante o evento, representantes de cerca de 90 países e organizações discutiram formas de alcançar uma paz duradoura na Ucrânia com base no direito internacional. Analistas do Instituto para o Estudo da Guerra acreditam, no entanto, que "a Federação Russa não está interessada em negociações de boa-fé sobre a paz na Ucrânia".
 
Para está perceção terá contribuído a posição tornada pública por Putin na véspera da cimeira, prometendo ordenar imediatamente um cessar-fogo na Ucrânia e iniciar negociações se “Kiev começasse a retirar as tropas das quatro regiões anexadas por Moscovo em 2022 e renunciasse aos planos de adesão à Organização do Tratado do Atlântico Norte” (NATO). Esta proposta equivaleria à capitulação total da Ucrânia, na medida em que se traduziria numa cedência de territórios invadidos sem qualquer legitimidade face ao direito internacional, e que só parcialmente a Rússia controla. 
 
Para a Ucrânia, o objetivo é manter a sua integridade territorial e soberania, mediante a saída de todas as tropas russas do seu território, além de Kiev pretender aderir à aliança militar. Naturalmente, as condições colocadas por Moscovo foram rejeitadas liminarmente pela Ucrânia, pelos Estados Unidos e pela NATO. Por isso, Zelensky afirmou que a Rússia e os seus líderes"não estão preparados para uma paz justa”, garantindo que a Rússia pode negociar a paz "amanhã, se se retirar" do território ucraniano. Foi esta também a ideia defendida pela maioria dos participantes, mais de 80 países, incluindo os da União Europeia, Estados Unidos da América, Japão, Argentina, Somália e Quénia, que assinaram um comunicado final que "reafirma a integridade territorial” pedindo que "todas as partes” estejam envolvidas para se alcançar a paz.
 
Negociações efetivas de paz terão naturalmente de envolver a Rússia.
É um processo diplomático que estará ainda longe, tanto mais que Putin espreita os resultados das eleições americanas de novembro e também de outros desenvolvimentos políticos em diversos países da União Europeia, cujos resultados, no conjunto, acredita que poderão ser favoráveis aos seus objetivos. Resta também saber se Putin está efetivamente interessado em negociar uma solução política ou se, como afirmam mutos especialistas, para Putin a Ucrânia, por razões históricas e geopolíticas, não tem razão de existir com autonomia estratégica.
 
E, se assim for, esta guerra está para durar, decidindo-se em larga medida, no campo de batalha. E, nesta perspetiva Putin só vai parar com uma vitória em toda a plenitude, ou então se for parado pela força, o que não será tarefa fácil.