Por F. Inez

Todas as gerações, para além de uma vivência e de um quotidiano dito normal, acabam por ser contemporâneas de acontecimentos marcantes, umas vezes de grande júbilo e alegria, outras vezes mais ou menos dramáticos. Se deitarmos uma vista de olhos aos últimos 100 anos, disso temos numerosos exemplos. Entre nós, a implantação da República que pôs fim a um regime monárquico caduco, o Estado Novo que pôs fim a um Regime Republicano anárquico, mas que, por excesso de autoritarismo e responsável por uma Guerra Colonial, findou num abril que nos trouxe a democracia. Por esse mundo fora … assistimos a duas grandes Guerras Mundiais, ao dramático Holocausto, ao fim dos regimes coloniais, a diversos conflitos regionais – Indochina, Vietname, Iraque … e outros … mas também ao ressurgir de conflitos religiosos de cariz islâmico e suas repercussões terroristas um pouco por todo o mundo.

Estamos hoje a assistir ao absurdo criminoso de uma guerra na Ucrânia, geradora de uma enorme instabilidade um pouco por esse mundo fora. A área da Saúde, também não tem sido alheia a acontecimentos marcantes. Para além do aumento espetacular da esperança de vida, que nos últimos 100 anos mais que duplicou, e avanços quase miraculosos no controlo e cura das doenças, mas também temos assistido a fenómenos preocupantes, como as duas grandes pandemias … a gripe espanhola/pneumónica de 1918/19 e a ainda recente Covi-19 que, como seria de esperar se transformou em endemia e que à semelhança de tantos outros quadros epidémicos irá continuar a conviver connosco de uma forma mais silenciosa.

Temos todos ainda bem presente o dramatismo que nos atingiu com os milhares … milhões por esse mundo fora … de doentes e de vítimas mortais. Todos nós … doentes … e mesmo quem foi poupado à infeção pelo vírus Covid-19 … ficámos todos psicologicamente extenuados com tudo o que ela nos trouxe … medo de adoecer, confinamentos, dificuldade no acesso aos serviços de saúde e de todos os outros serviços de utilidade pública … e tantas outras restrições do nosso quotidiano. A tal ponto que os mais vulneráveis desenvolveram frequentes depressões e outras perturbações da sua saúde mental. E de tal modo que mesmo a leitura de tudo quanto lhe diga respeito, ainda hoje origina uma natural e viva rejeição!

Todavia não devemos nem podemos voltar-lhe as costas, já que é de enorme importância permanecermos vigilantes perante a “herança” que o “malfadado bicho” … como eu lhe costumo chamar, sem prejuízo do rigor da taxonomia dos agentes infeciosos, neste caso, os vírus … já que ainda hoje muitas pessoas continuam ou estão a ser vítimas daquela “herança” que o vírus covid-19 nos deixou. Merecem particular atenção as situações do chamado Covid Longo, situação em que mesmo depois da fase aguda da doença permanecem durante vários meses alguns sintomas … cansaço anormal, falta de ar, insónia, depressão e outros sintomas, e parece ser mais frequente nos doentes que não foram vacinados. Atualmente começa a constatar-se um aumento da frequência sobretudo de infeções respiratórias, gripes, e gastroenterites, repetitivas em certos pacientes … o que os epidemiologistas estão a atribuir ao enfraquecimento do sistema imunitário, que terá ocorrido na sequência dos confinamentos prolongados e falta de contacto com os vírus circulantes habituais, a que a recente pandemia do covid-19 nos obrigou. O sistema imunitário adquire defesas contra os microrganismos infeciosos pelos contactos sucessivos e frequentes, o que deixou de acontecer com os confinamentos prolongados e outras medidas preventivas … uso de máscaras, higienização das mãos e outras medidas.

Tal como os músculos que necessitam de exercício para se fortalecerem …  enfraquecem e atrofiam se não forem exercitados … o sistema imunitário também necessita de frequentes contactos com os agentes infeciosos … bactérias, vírus, fungos e outros …  para se fortalecer … caso contrário enfraquece. E é o que está a acontecer neste momento … infeções respiratórias frequentes e repetidas … e outras como as diarreias também originadas por vírus. Há também que manter a vacinação … reforços, sobretudo da população mais idosa e vulnerável … as vacinas são uma espécie de exercício para treinar e ensinar o sistema imunitário a lidar com as infeções. Vamos ajudá-lo a proteger a nossa saúde …