Tiago Machado, o eterno candidato português à vitória na Volta ao Algarve, considerou que há outros ciclistas com maiores responsabilidades nesta edição, mas confessou que gostava de dar uma alegria ao público nacional.

Há várias edições que o ciclista da Katusha, que foi terceiro em 2015 e 2010, procura vestir a amarela final, mas, em entrevista a agência Lusa, Machado negou que seja só a ‘Algarvia’ a prova que lhe está atravessada na garganta.

“É o Algarve e umas quantas. O Algarve é a corrida que tenho a oportunidade de fazer todos os anos em Portugal e é uma corrida de que gosto muito. É uma zona do país da qual gosto, quando posso venho cá. E, claro, quando as coisas correm bem, sentir o calor do nosso povo é fantástico. Gostava de dar uma alegria, vamos ver como as pernas vão responder”, disse antes de partir para a estrada no arranque da 43.ª edição, que decorre entre quarta-feira e domingo.

Ainda assim, o corredor de Famalicão rejeita assumir-se como candidato: “Há aí gente com mais responsabilidade. Eu, como sempre, quero fazer o meu melhor, estar com os melhores e depois o que vier por acréscimo é sempre bem-vindo”.

E o melhor de Machado nunca será apontar ao estatuto de melhor português, já que, na sua opinião, essa meta é para ciclistas com “mentalidade pequena”.

“Acho que temos de ambicionar disputar a prova, estar com os melhores. Se estivermos com os melhores, é bom. Agora, correr para ser o melhor português não é um objetivo”, sustentou.

O corredor da Katusha não esconde o orgulho por ser o recordista de participações na Volta ao Algarve – “pelo menos, daqueles que estão a participar” -, mas não considera que as suas 12 edições sejam um caso de veterania.

“Comecei muito jovem e há muita gente que se esquece disso. Esquece-se que foi com 19 anos que eu iniciei a minha carreira profissional. E não foi apenas começar, foi estar sempre na disputa das provas. Isso requer muito empenho e muito profissionalismo. Já são muitos quilómetros nas pernas, mas não me considero veterano”, argumentou.

Aos 31 anos, ‘Tiaguinho’, como é conhecido no pelotão, acredita que ainda tem muitos anos pela frente na elite do ciclismo, esperando apenas que a saúde não lhe pregue partidas como na temporada passada.

“O objetivo [para 2017] passa por estar ao meu nível, porque se estiver ao meu nível acho que tenho capacidade para estar com o grupo restrito de atletas que está na disputa das provas. Acredito que tenho essa capacidade ainda e tenho trabalhado com esse objetivo”, reconheceu, indicando que está como suplente do ‘nove’ da sua equipa para a Volta a França.

Na sua sétima época como ‘emigrante’, Machado não faz questão de regressar à prova rainha do ciclismo mundial, onde esteve em 2014 e 2015, com recordações de má memória, nomeadamente na sua primeira participação, quando seguia em terceiro da geral, à 10.ª etapa, e caiu.

“Aquele azar saiu-me bem caro, porque tão depressa estava no céu, como passei ao inferno. Foi pena, porque poderia ter feito uma coisa bonita e acabei por sair de lá lesionado. Se tiver que ir, vou e darei o meu melhor em prol dos objetivos da equipa, mas já tive a experiência de fazer o Tour e é uma prova muito stressante. Infelizmente, tenho tido azares quando lá vou, tenho quedas feias. E isso paga-se caro”, lamentou.

Naquela que é uma das suas duas presenças anuais em competição no seu país – a outra são os Campeonatos Nacionais, outro sonho antigo -, o ciclista da Katusha voltou a manifestar o desejo de voltar ao pelotão luso.

“Quando isso acontecer, já não vou ter a capacidade para discutir as provas todas, como eu gosto, mas posso transmitir alguma experiência aos mais jovens, dar-lhes conselhos. Ainda penso em fazer carreira lá fora mais algum tempo e depois logo se vê”, completou.

Tiago Machado não sabe quando regressará a Portugal, mas sim que dificilmente chegará aos 40 no WorldTour.

“Não sei se aguento, porque cá fora, desculpem-me os portugueses, mas o nível de exigência é bem mais elevado e são poucos os que conseguem estar ao mais alto nível a partir dos 35 anos”, concluiu.

 

Por: Lusa