O êxito da 42.ª Volta ao Algarve deve-se, de acordo com José Azevedo e Ricardo Scheidecker, os dois técnicos portugueses no primeiro escalão do ciclismo, com um percurso e uma organização de fazer inveja a muitas provas do WorldTour.

Cada partida de etapa nesta Volta ao Algarve é um verdadeiro caos. Ao imparável desfile de estrelas somam-se verdadeiras multidões, nunca vistas por estas paragens, insatisfeitas pela ausência de transmissão televisiva, mas empolgadas com as fotografias e os autógrafos que vão acumulando.

Mas, afinal, o que tem esta 42.ª edição? José Azevedo, o único diretor desportivo português no WorldTour, explica: “Acho que é o seguimento da linha ou da importância que a Volta ao Algarve estava a ganhar no calendário internacional. Nos últimos anos, tem havido sempre a presença das melhores equipas do mundo. A organização até tem de fazer uma seleção, porque o regulamento limita o número de formações do WorldTour. Este ano, o número de equipas é o mesmo, vêm é os líderes”.

A feliz coincidência, que juntou no mesmo pelotão Alberto Contador (Tinkoff) e Fabio Aru (Astana), vencedores do Giro e da Vuelta, os ‘reis’ das ‘clássicas Tom Boonen (Etixx-QuickStep) ou os dois melhores ‘sprinters’, os alemães Marcel Kittel (Etixx-QuickStep) e André Greipel (Lotto Soudal), é, segundo o técnico da Katusha, motivada pelo traçado completo, raro nesta altura da temporada.

“Penso que o facto de ter duas chegadas ao alto cativa mais os trepadores. Ou seja, haver duas etapas de montanha, dois ‘sprints’ e um contrarrelógio torna o percurso muito equilibrado e isso atrai os corredores. O ‘crono’ é sempre bem-vindo nesta altura do ano. E estas etapas de cerca de 200 quilómetros são uma boa preparação para os homens das clássicas”, enumerou.

Azevedo lembrou que as formações da primeira divisão do ciclismo mundial têm de adequar o seu calendário aos objetivos que têm para a época.

“E a Volta ao Algarve, com um percurso tão equilibrado, com o bom tempo que aqui faz normalmente – se virmos, pela Europa, está praticamente a chover em todo o lado -, com a oferta hoteleira, que é do melhor, em termos de qualidade e no sentido de não termos de nos mexer, torna a prova uma corrida muito atrativa e apetecida”, completou.

A mesma opinião é partilhada por Ricardo Scheidecker, coordenador português da Tinkoff.

“Eu acho que esta corrida tem mais diversidade, tem todo o tipo de percursos, está-se na Europa, ainda que seja longe, e a organização é boa. No fundo, as pessoas são bem acolhidas. As equipas já se habituaram a vir aqui, independentemente de trazerem mais estrelas ou menos. Quando são bem tratadas e as coisas correm bem, normalmente há uma repetição. Passa por aí”, defendeu em conversa com a agência Lusa, à partida para a quarta etapa, que vai ligar São Brás de Alportel a Tavira.

Quanto à constelação de ‘estrelas’ que tem deslumbrado no sul do país, Scheidecker pensa que se tratou de um acaso praticamente aleatório.

“Passou um bocado pela decisão de as equipas de não estarem em Omã. Fizeram duas frentes em Ruta del Sol [Andaluzia] e aqui no Algarve. Tem sido sempre um pelotão de estrelas no passado, não é só este ano. Uns anos melhor, outros pior, mas este ano foi uma boa coincidência”, concluiu.

O que falta à ‘Algarvia’, na opinião dos dois técnicos lusos do topo do pelotão mundial, é mesmo a transmissão televisiva

 

Por: Lusa