Por Luís Pina | aragaopina59@gmail.com

À hora anunciada, pelas 07h05, o Alfa Pendular chegou à estação de Loulé para recolher algumas dezenas de passageiros em que eu estava incluído, com destino final marcado para a Estação do Oriente, a cerca de 02h30 de distância. Depois de ocupar o meu lugar, calhou-me por companheiro de viagem um simpático e conversador ancião, daquelas companhias que tornam uma viagem mais animada e descontraída. Falando de viagens, e nomeadamente das ligações de Loulé a Lisboa, dele registei por curiosidade o modo como se viajava para a capital, à distância de uns bons anos… “E naquele ano, foi assim”: Aquela manhã de Dezembro surpreendeu-nos com o sol, brilhante, ainda que insuficiente para nos aconchegar do frio que naquele ano de 1955 nos sacudia particularmente severo, condizente com o cinzentismo igualmente gélido do Estado Novo. Lembro-me como se ontem fosse quando, expectante, ansiava por conhecer finalmente a capital do País, o rio, os Jerónimos e o Rossio, numa viagem agendada por meus pais. Na Avenida Marechal Carmona, notabilizada pela inauguração recente do Monumento Duarte Pacheco (ocorrida dois anos antes, em Novembro de 1953), lá me dirigi com meus pais à paragem, a escassos metros do então – e ainda atual – Café Havaneza. Lá partimos então, rumo a essa Lisboa lá tão longe. O percurso, sinuoso, levou-nos pelo Barranco do Velho... Ameixial… e outras localidades bem mais povoadas na altura, até atravessarmos a Serra do Caldeirão. A partir de Almodôvar esperavam-nos as longas e vastas planícies do Alentejo, onde Km e Km ainda testemunhavam, à época, o árduo trabalho da ceifa do trigo e outros cereais “de sol a sol”. Exaustos pelos solavancos de um veículo que não primava pela comodidade, lá parámos em Ferreira do Alentejo para o almoço. Um alívio e uma lufada de ar bem frio, que as temperaturas no Alentejo, no inverno, descem a pique. Já não faltava tudo, mas do muito que ainda nos separava da capital não me permite a memória grandes detalhes. Lembro-me, isso sim, que chegámos finalmente a Cacilhas pelas oito da noite! Com a “Ponte Salazar”, atual 25 de Abril à distância de 11 anos, (seria inaugurada só em 1966), ainda nos esperava o Tejo para atravessar até pormos pé na capital propriamente dita, ao cabo de 13 horas de longa jornada. À EVA todavia não se podia exigir melhor naqueles meados dos anos 50. Talvez até fosse um “quase milagre”… mas recordar é sempre viver até para valorizarmos o ritmo prodigioso que tem marcado, entre outras coisas, a evolução dos transportes, agora que duas horas e meia nos separam, de carro ou comboio da capital.