No sotavento Algarvio, entre Faro e Vila Real de Santo António, operam cinquenta e uma embarcações de pesca local e costeira com licença para arte de ganchorra, todas associadas à Olhãopesca, sendo que esta é uma atividade devidamente regulamentada e organizada, tem horário de trabalho, limites de captura diários por embarcação e um defeso de 45 dias.
Trata-se de uma frota de pesca única no nosso País, existem pequenos núcleos de 10/15 unidades pela costa continental, nomeadamente, Setúbal, Aveiro e Viana do Castelo, no entanto, a frota existente no sotavento Algarvio é singular, sendo que tem evoluído e mantido a atividade há décadas em constante equilíbrio com os recursos naturais disponíveis, é portanto, uma atividade com grande importância e impacto económico para a região, tanto pela empregabilidade direta e indireta, como pelo movimento financeiro que proporciona.
No entanto, nos últimos tempos, principalmente, durante o ano 2014, as anormais, constantes e longas ocorrências de interdições de pesca por presença de biotoxinas marinhas, tem provocado elevados danos aos armadores, empresas e respetivas tripulações. A pesca com ganchorra deixou de ser uma atividade com procura em termos de mão-de-obra, os pescadores, mestres e motoristas optam por outras atividades pesqueiras, mais regulares, que não são afetadas por constantes interdições.
Atualmente, a Olhãopesca é promotora de um projeto no âmbito do programa Promar, cofinanciado pela UE e pelo Estado Português, tratando-se de um investimento de 120.000,00 €, que consiste equipar as cinquenta e uma unidades de pesca da ganchorra do sotavento Algarvio com equipamento de seguimento em tempo real durante 3 anos, cuja informação servirá para fins científicos destinados ao Instituto Português do Mar e da Atmosfera, sendo esta, uma obrigação imposta pelo Estado Português.
Dado ao débil estado da atividade de pesca com ganchorra e à permanente incerteza que a envolve, Miguel Cardoso, questiona se vale a pena tão grande investimento por parte da Organização de Produtores, do Estado Português e da União Europeia.
A continuidade de frequentes interdições por presença de biotoxinas marinhas, da forma como inexplicavelmente tem-se verificado, levará, a médio prazo, ao colapso da atividade provocando a sua inevitável extinção, e mais uma vez, perderemos uma atividade económica, uma arte, um saber de gerações, com consequências graves para a região algarvia.
Miguel Cardoso, Presidente da Direção da Olhãopesca, não compreende como é que de um ano para o outro, 2013/2014, ocorreram tantos e tão longos períodos de interdições por presença biotoxinas marinhas, com mais incidência na conquilha (principal espécie alvo de captura), foi um ano atípico, sendo que tais ocorrências estão a ser cada vez mais frequentes e mais longas. Considera que, chegou o momento da administração, Secretário de Estado do Mar, bem como, o Instituto Português do Mar e da Atmosfera, virem junto dos profissionais e das empresas do sector, explicar as razões destas alterações, se são ambientais ou não e quais as perspetivas de futuro, bem como, de repensar, analisar a viabilidade da continuidade desta atividade pesqueira.
Por: Olhãopesca