André Magrinho, Professor Universitário, Doutorado em Gestão | andre.magrinho54@gmail.com
A desinformação sobre várias formas tem vindo a ganhar terreno nas eleições dos EUA e em muitos países da Europa. É sobretudo protagonizada por países como Rússia, Irão e China, que utilizam táticas cada vez mais sofisticadas para influenciar a opinião pública e minar a confiança dos eleitores nas democracias. A Rússia tem sido particularmente ativa, utilizando redes sociais, chatbots, trolls, memes, para espalhar desinformação e teorias da conspiração. A China e o Irão também têm participado, com campanhas direcionadas que visam grupos específicos de eleitores. Estas operações não se limitam às grandes plataformas de redes sociais, atingindo também os fóruns menores e grupos de mensagens. O objetivo principal dessas campanhas é criar divisões e enfraquecer a confiança nas instituições democráticas nos EUA, nos países europeus e nas democracias em geral.
O que pretendem estes países com esta interferência? A Rússia, o Irão e a China têm objetivos distintos, mas interrelacionados, nomeadamente o combate à ordem internacional dominante de matriz liberal baseada em regras, liderada pelos EUA. Vejamos alguns objectivos e modo de acção subjacente a tais interferências: (i) Desacreditar a Democracia, a fim de minar a confiança nas instituições democráticas. Por exemplo, semeiam-se dúvidas sobre a integridade das eleições, esperando por essa via enfraquecer a confiança dos eleitores no processo democrático; (ii) Criar Divisões Internas, procurando exacerbar divisões sociais, políticas e culturais dentro dos países-alvo. Ao polarizar politicamente a sociedade, tornam-na mais vulnerável a conflitos internos; (iii) Influenciar Resultados Eleitorais, em que a Rússia, por exemplo, tem sido acusada de tentar favorecer candidatos específicos que possam ser mais benéficos para seus interesses geopolíticos. O Irão e a China também têm seus próprios interesses, embora possam não apoiar candidatos específicos de forma tão explícita; (iv) Desviar a Atenção, procurando nomeadamente criar caos e desinformação noutros países, afastando assim a atenção das suas próprias questões internas e das críticas internacionais às suas políticas; (vi) Fortalecer a Posição Geopolítica, procurando enfraquecer os seus adversários, e como tal fortalecerem a sua própria posição no cenário global.
Nesta perspectiva, a desinformação é uma ferramenta estratégica para alcançar objetivos geopolíticos sem recorrer a confrontos diretos. Essas táticas são parte de uma estratégia mais ampla de “guerra híbrida”, que combina operações cibernéticas, desinformação e outras formas de influência para alcançar objetivos políticos e estratégicos.