Matilde Marques, Farmacêutica Farmácias Holon
Séruns, tónicos, máscaras e até cremes antienvelhecimento fazem hoje parte das rotinas de muitas crianças e adolescentes. O que antes era território exclusivo dos adultos transformou-se numa rotina entre os mais novos, que seguem religiosamente passos complexos, inspirados pela informação que irradia das redes sociais.
Mas será este um sinal positivo de literacia em saúde e autocuidado precoce? À primeira vista, começar cedo nos cuidados dermocosméticos parece uma prática saudável. Afinal, criar hábitos de higiene, hidratação e proteção solar é importante em qualquer idade. Muitos jovens demonstram um interesse genuíno pelo bem-estar e procuram saber mais, algo que deve ser valorizado.
Cuidado com as “rotinas digitais”
Mas, é mesmo uma curiosidade consciente? Atualmente, surgem, constantemente, novas rotinas de cuidados e tutoriais que prometem resultados quase instantâneos, mas que nem sempre têm em conta as necessidades específicas de cada tipo de pele. O que é eficaz para uns pode revelar-se ineficaz para outros.
Perante tanta oferta, encontrar o ponto de partida e perceber quais os produtos que realmente valem a pena pode ser um verdadeiro desafio. Assim, um aconselhamento especializado garante que as escolhas são verdadeiramente benéficas e seguras.
A pele jovem é naturalmente mais sensível e ainda está em desenvolvimento. Muitos dos ingredientes presentes em produtos destinados ao antienvelhecimento - retinoides, vitamina C e ácidos fortes -, não são apropriados para crianças e adolescentes. O uso desinformado e precoce pode provocar reações adversas como irritações, secura, descamação e acne. Além disso, rotinas com demasiados passos aumentam o risco de reações alérgicas e de desequilíbrio da barreira cutânea.
Adequar o cuidado à idade
O essencial é adotar uma abordagem equilibrada e consciente. Apostar em rotinas simples, baseadas em limpeza suave, hidratação e proteção solar, é o segredo para uma pele saudável. Mais do que muitos produtos, o que importa é escolher fórmulas seguras e adequadas a cada tipo de pele, lembrando que há muita desinformação a ser transmitida.
• Crianças (4-11 anos): pele fina, clara e sensível ao sol e às agressões externas. Optar por loções suaves sem sabão, hidratar todos os dias com produtos para pele sensível e específicos para eventuais patologias como dermatite atópica e aplicar protetor solar infantil;
• Adolescentes (12-19 anos): a atividade hormonal estimula a produção de sebo, aumentado a predisposição para o acne. Para cuidar da pele, recomenda-se uma rotina muito simples com uma limpeza suave, preferencialmente com texturas em gel ou espuma, hidratação leve com fórmulas não comedogénicas e, diariamente, protetor solar.
• Início da fase adulta (20-29 anos): aos 25 anos, a pele começa a perder colagénio e elasticidade. Nesta fase, para além da rotina básica de limpeza, hidratação e proteção solar, é possível introduzir séruns, que oferecem uma maior concentração de ativos, como antioxidantes e ácido hialurónico.
Em conclusão, o autocuidado jovem deve priorizar uma rotina simples, consciente e adequada a cada tipo de pele e à faixa etária. Um aconselhamento personalizado, com profissionais de saúde especializados, pode ajudar a fazer escolhas mais acertadas, alinhadas às necessidades individuais.