André Magrinho, Professor universitário, doutorado em gestão | andre.magrinho54@gmail.com

A transição energética constitui um imperativo para fazer face à atual emergência climática, o que obriga a descarbonizar a economia, visando alcançar a neutralidade carbónica em 2050, de acordo com compromissos assumidos no quadro das Nações Unidas e da União Europeia, fixando também a meta de não ultrapassar os 1,5oC no aquecimento global com referência aos níveis pré-industriais. A sociedade civil está também envolvida na transição para uma economia com emissões líquidas nulas, realçando-se iniciativas no quadro das Nações Unidas, como o “Global Compact”, que envolvem o mundo empresarial.

A invasão da Ucrânia, no que respeita à transição energética, está a gerar dois impactos de sentido oposto, sobretudo nos países que estavam mais avançados nesta mudança da matriz energética, desde logo a Europa. Num primeiro momento, o que estamos a viver, verifica-se um retrocesso, com o acréscimo do consumo de combustíveis fósseis, como o carvão e petróleo, mas também do GNL- Gás Natural Líquido, que liberta cerca de três vezes mais C02 do que o gás natural convencional via gasoduto, dado o maior consumo de energia no processo de fabrico. Este retrocesso deve-se à profunda dependência energética de algumas das economias europeias mais importantes, como a alemã, dependente em cerca de 50% do fornecimento de gás proveniente da Rússia.

Esta dependência nalguns países do norte e do leste da Europa, aproxima-se dos 100%. Como não é possível substituir num espaço de tempo muito curto o fornecedor russo, alguns dos países mais dependentes tiveram de lançar mão a alguns vetores energéticos substitutos, mas mais poluentes e mais caros, sob pena das suas economias experimentarem danos irreparáveis. Como reação, num segundo momento, por força da necessidade, como aliás começa a ser percetível, a guerra funciona como um acelerador da transição energética, à semelhança do que sucedeu com a pandemia da COVID 19, que foi um acelerador da transição digital.

Um pouco por toda a Europa, estão a efetuar-se investimentos muito significativos nas energias verdes, com realce para as eólicas e o solar. É sabido que estas energias têm limitações, pois são intermitentes em razão das fontes que as alimenta. Para ultrapassar estas limitações, estão previstos em muitos países, investimentos noutros vetores energéticos, sobretudo o hidrogénio verde, que em boa parte poderá progressivamente ser injetado via gasodutos, e os seus derivados transportados sob a forma de amónia verde.

Portugal experimenta atualmente uma corrida aos fundos europeus para produzir hidrogénio verde, com cerca de 70 projetos, a que corresponde uma capacidade instalada de cerca de 3 GW e um investimento total de cerca de 8 mil milhões de Euros. Incluem-se   também projetos de grande alcance, nomeadamente o “MadoquaPower2X” que prevê instalar 500 MegaWatts de capacidade de produção de hidrogénio verde e 500 mil toneladas de amónia verde por ano, permitindo diminuir a emissão anual de mais de 600 mil toneladas de dióxido de carbono, num investimento de mais de mil milhões de Euros. 

Terá localização em Sines, que se pretende afirmar como um “hub” do hidrogénio verde, sobretudo se as interligações da península ibérica com a Europa avançarem. Avanços noutros vetores energéticos estão a ser feitos, incluindo na energia das ondas ou nas novas gerações de baterias, nas tecnologias das pilhas de combustível, o que para tanto importa estimular o ecossistema de inovação e tecnologia.