André Magrinho, Professor Universitário, Doutorado em Gestão | andre.magrinho54@gmail.com
Donald Trump está a confrontar a Europa com as suas fragilidades, algumas quase congénitas, como é o caso da segurança e defesa, outras a nível da inovação e competitividade. Vejamos alguns indicadores: no investimento em inovação, apenas 5% do capital de risco global é angariado na UE, comparado com 52% nos EUA e 40% na China; a UE tem muito menos empresas de tecnologia de ponta e startups de elevado valor em comparação com os EUA e a China; na Capitalização de Mercado, não há empresas da UE com uma capitalização de mercado superior a 100 mil milhões de euros criadas nos últimos cinquenta anos, enquanto os EUA têm várias empresas com avaliações superiores a 1 bilião de euros; na descarbonização e tecnologias limpas, embora a UE seja líder em tecnologias limpas como turbinas eólicas e veículos elétricos, enfrenta fortíssima concorrência da China, especialmente no setor de veículos eléctricos; a dependência de fornecedores externos é elevadíssima para matérias-primas essenciais e tecnologia digital, com 75 a 90% da capacidade mundial de fabricação de processadores (chips) localizada na Ásia.
 
Este é o quadro geral das fragilidades europeias perante as ameaças de Trump, entre outras as de aumentar significativamente as taxas sobre as importações de produtos provenientes da UE, ou de obrigar os europeus a afetarem 5 % do seu PIB à defesa, sobretudo a prestação para a defesa e segurança colectiva no quadro da NATO. Poderão as ameaças de Trump ser uma oportunidade para a Europa dar sinais de vida e enfrentar os desafios que se lhe colocam? A UE sabe o que tem de ser feito e dispõe de um guião: o “Relatório Draghi”, elaborado por Mario Draghi, ex-presidente do BCE, consubstanciado agora na “Bússola para a Competitividade da UE” apresentada pela presidente da Comissão Europeia, no passado di 29 de Janeiro. A Bússola para a Competitividade da UE, visa recuperar a competitividade da Europa e garantir uma prosperidade sustentável, transformando as recomendações do relatório Draghi num plano de ação concreto, em torno de três áreas principais: inovação, descarbonização e segurança.
 
Releva explicitamente a transição energética e tecnológica, bem como a necessidade de diversificar cadeias de abastecimento e garantir a segurança económica e a autonomia estratégica. A simplificação e a flexibilização dos regulamentos e obrigações passam a ser prioridade. Assume que a corrida à liderança industrial e tecnológica é decisiva, em matéria de chips, semicondutores e outros componentes tecnológicas, assim como a inteligência artificial ou as tecnologias quânticas. Assume ainda que a Europa precisa de agir rapidamente e de forma coordenada para enfrentar desafios estruturais e aproveitar oportunidades de crescimento sustentável para que possa competir com outras grandes economias, como os EUA e a China. Assim haja a necessária visão, vontade política coletiva e liderança para que esta ambição possa ser uma realidade. A não prossecução desta trajetória poderá significar o definhar da UE e a sua irrelevância geopolítica num contexto em que está a emergir uma nova ordem internacional e em em que as tensões geopolíticas, a luta pela supremacia tecnológica e a disputa pelo controle de recursos está a aumentar.