Por F. Inez

Longe vão os tempos em que o pai da Demografia, Thomas Malthus, assustou o mundo ao dizer que a população estava a aumentar a um ritmo muito superior ao da produção de alimentos … o que condenava a Humanidade a morrer à fome … previsão que os sucessivos avanços tecnológicos posteriores, na área da agricultura, têm vindo progressivamente a afastar. Todavia e conquanto a população mundial continue ainda a crescer em números assustadores … acaba recentemente de atingir os 8 mil milhões … o ritmo de crescimento, que na década de 60 representou uma verdadeira explosão demográfica, desde os anos 80 começou, inesperadamente, a sofrer uma inflexão, por ter entrado em declínio a fecundidade … o número médio de filhos por casal … e deixou de assegurar a renovação das gerações … fenómeno progressivo e mais evidente à medida que os países se vão desenvolvendo.

No entanto, vale a pena referir que aquela “multidão” de seres humanos não deixa de ser assustadora, se nos lembrarmos que em cada ano, cada ser humano consome, em média, 43 Kg de carne, 560 mil litros de água, produz 280 Kg de lixo e origina 4,5 toneladas de CO2.

Carne feita em laboratório, leite produzido pela fermentação de microrganismos, proteínas de ervilha e dos insetos, peixe de aquacultura, algas e outras “iguarias” são alguns exemplos da inteligência tecnológica do ser humano que promete vir a suprir as necessidades nutritivas e alimentares da imensa multidão que habita o nosso Planeta.

São, todavia, hoje preocupações mais alarmantes as alterações climáticas, o terrorismo de natureza étnica e religiosa, o risco de conflito nuclear e a ameaça à biodiversidade … esta última uma área pouco valorizada, já que hoje cerca de 1 milhão de espécies estão em risco de extinção … uma grande parte delas indispensáveis à nossa sobrevivência … a maior vaga desde a catástrofe que originou a extinção dos dinossauros … há 60 milhões de anos! Hoje, são sobretudo os incêndios e a desflorestação a maior ameaça à biodiversidade … mas também a monocultura … em Portugal o eucalipto e em Espanha a oliveira. Mas as ameaças não se ficam por aqui … pelo que nos diz respeito, o Censo de 2021, mostrou que Portugal está na linha da frente dos países que estão a perder população.

Estamos a ficar cada vez mais velhos … a esperança de vida aumentou espetacularmente nas últimas dezenas de anos … com um ligeiro interregno no período da pandemia Covid … mas o último Censo aponta também para uma gravíssima crise demográfica sem paralelo na nossa História … com uma forte erosão na faixa etária abaixo dos 39 anos … o que nos conduz a uma situação de não renovação da população em idade ativa e reprodutiva, o que inevitavelmente se repercute na economia … falta de mão de obra …  e também na idade de procriar, indispensável à renovação de gerações.

Os demógrafos consideram mesmo este declínio da população uma situação de emergência nacional! Naturalmente que  são múltiplas as causas desta última situação … mas delas sobressai a debilidade financeira da população jovem, com vencimentos de miséria que não lhes permite a independência financeira para sonhar com um projeto de vida … uma grande parte continua a viver em comunhão com pais e avós … e em função das uniões de facto … o casamento está beira de cair em desuso com vários modelos de família,  o que se repercute na conjugalidade e na fertilidade ... uma proporção significativa opta por não ter filhos. As consequências económicas e sociais são inquietantes … escassez de mão de obra e de produção de bens e serviços … e um preocupante agravamento da sustentabilidade do fundo de pensões e do estado social.

Face a este dramático cenário … com tendência para progressivamente se agravar … esperava-se uma resposta do poder político … que não aparece! Os políticos parece estarem mais preocupados com o seu bem-estar do que com os problemas dos cidadãos e do país que os elegeram! A continuar assim vamos inevitavelmente ficando cada vez mais velhos … mas também cada vez menos … e mais pobres!