Por: Padre Carlos Aquino | effata_37@hotmail.com

“Senhor, são poucos os que se salvam?”

Inicio um novo conjunto de crónicas inspiradas nos Evangelhos que, vamos escutando dominicalmente, textos que constituem uma boa e alegre notícia para todos os cristãos e gente de boa vontade. Faço-o como crente, um ser que procura, interroga, na margem dos sonhos e na esperança de contribuir para a edificação de um novo humanismo que urge e se espera. Vivemos num tempo que relativizou quase tudo.

A cultura atual insiste em que não há verdades universais, apenas perspetivas individuais. Mas o coração humano, ainda que afogado em discursos, continua sedento e faminto. Podemos disfarçar com consumo, tecnologia ou ideologias, mas a sede da alma permanece. E é justamente nesse vazio que uma mensagem ressoa com uma força silenciosa: existe, sim, um caminho, uma verdade, uma vida que não é mera soma de experiências. O relativismo, ao negar a existência de uma verdade última e da dimensão do pecado mina as condições da própria experiência humana.

Afinal, de que precisamos ser salvos? Se não há bem nem mal em termos absolutos, tudo se reduz à opinião, e a culpa, o perdão e a justiça deixam de ter sentido. Mas, a salvação não é apenas um conceito religioso: é o reencontro da criatura com o Criador. É o reconhecimento humilde de que, por mais que construamos castelos de relativismo, não conseguimos nos redimir a nós mesmos. É aceitar que a vida tem um eixo que não se dobra às modas, e que a verdade não se dissolve nos gostos pessoais. Numa cultura que nos convida a “fabricar” o nosso próprio sentido, a salvação é escândalo porque nos lembra que não somos senhores absolutos de nada; e alívio, porque nos revela que não precisamos carregar o peso de sermos deuses. A salvação nos dá uma certeza: somos amados, perdoados e chamados para algo maior do que nós mesmos.

Em Cristo, não há espaço para relativismos. Ele não se coloca como uma das muitas opções, mas como o único caminho que conduz à vida plena. Essa afirmação não se adapta facilmente à sensibilidade pós-moderna, mas continua sendo a rocha sobre a qual a fé cristã se sustenta. O relativismo promete liberdade, mas, na prática, aprisiona o ser humano num labirinto de incertezas.

O resultado é uma geração marcada por ansiedade, vazio existencial e desesperança. Ele, jamais conseguirá eliminar a experiência íntima da culpa, da injustiça e da busca por redenção que habita cada coração. A salvação em Cristo, ao contrário, não apenas aponta para um sentido maior, mas oferece perdão real, esperança concreta e reconciliação com Deus. Negar a necessidade da salvação é recusar a própria condição humana. Não se trata de uma construção cultural, mas de uma constatação universal. Defender a salvação é mais do que um exercício teológico: é um ato profético. É declarar que a verdade não muda ao sabor das modas, que a justiça não depende da maioria, e que o sentido da vida não se fabrica na subjetividade. Cristo continua sendo “a pedra que os construtores rejeitaram”, mas também a “pedra angular” sobre a qual se edifica a esperança do mundo. Em tempos líquidos, a salvação, dom para todos, é a nossa âncora. Defender a salvação em meio ao relativismo é, portanto, um ato de resistência. É recusar a lógica de que tudo é líquido e transitório. É afirmar que existe algo sólido, eterno, imutável — e que isso não nos aprisiona, mas, verdadeiramente, dá vida, cura, liberta e salva!