André Magrinho, Professor universitário, doutorado em gestão | andre.magrinho54@gmail.com

No dia em que escrevo estas breves linhas celebra-se o dia da Europa, para simbolizar que há 77 anos, “a guerra na Europa foi substituída por algo diferente, algo novo, primeiro uma comunidade e hoje uma união", conforme referiu Ursula Von der Leyen, presidente da Comissão Europeia. Foi a 9 de maio de 1950 que Robert Schuman, o então ministro dos Negócios Estrangeiros de França, apresentou, no Salon de l'Horloge do Quai d'Orsay, em Paris, uma proposta com as bases fundadoras do que é hoje a UE,  conhecida como "Declaração Schuman".  

Traduzia uma ideia inicialmente lançada por Jean Monnet, centrada nos valores de paz, solidariedade, desenvolvimento económico e social, equilíbrio ambiental e regional, incluindo também a criação de uma instituição europeia supranacional incumbida de gerir as matérias-primas que, nessa altura, constituíam a base do poderio militar: o carvão e o aço. Considerando esse dia o marco inicial da UE, os Chefes de Estado e de Governo, na Cimeira de Milão de 1985, decidiram consagrar o dia 9 de maio como "Dia da Europa". Por ironia do destino, quando se pensava que a guerra na Europa faria apenas parte do imaginário coletivo, eis que a invasão da Ucrânia às ordens de Putin, coloca a guerra, novamente, em território europeu, dando razão aos presidentes do Parlamento Europeu, Roberta Metsola, e da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, a propósito da celebração, que “o futuro da Europa está ligado ao da Ucrânia e um fracasso na resposta à ameaça russa terá enormes custos". Até porque são os ucranianos que estão também a combater e a morrer pelo resto dos europeus.

Esta celebração também foi assinalada com a entrega das conclusões formalmente entregues, compreendendo 49 propostas e mais de 300 medidas desenhadas pelos cidadãos da UE, em resultado da Conferência sobre o Futuro da Europa, uma iniciativa conjunta do Parlamento, Comissão e Conselho Europeus, com o propósito de ouvir e dar voz aos europeus para se pronunciarem sobre o futuro da Europa, através de uma série de painéis de debate e discussões liderados pelos cidadãos. Aliás, este debate foi iniciado por ocasião da presidência portuguesa da UE, pretendendo ser um marco importante para a reflexão sobre as mudanças que terão que ser operadas para responder aos novos desafios. Um desses desafios que, porventura, não seria o que mais pesava no ato do lançamento deste debate, diz respeito ao tema da “segurança e defesa”. 

Na verdade, a União Europeia nunca assumiu em toda a plenitude, nomeadamente a nível de investimento, a sua segurança e defesa estratégicas, no pressuposto que os Estados Unidos e a NATO o assegurariam no quadro da Aliança Atlântica. Assim tem acontecido, mas cada vez mais se percebe a sua insuficiência e a necessidade da União Europeia ter, neste contexto, um papel mais ativo, também a bem da sua credibilidade externa.  Se outras razões não existissem, a invasão da Ucrânia, demonstra claramente que a Federação Russa só respeita e leva a sério, como é próprio dos poderes autocráticos, quem tem capacidade de projeção de poder e diplomacia coerciva. Por isso, constitui um imperativo investir na segurança e defesa da Europa, justamente para dissuadir a guerra.